• 22 de novembro de 2024

FUGA DE JALECOS | Cresce o número de profissionais de saúde brasileiros que migram para os EUA

A enfermeira Thaysa Guimarães, de 32 anos, relata que já chegou a emendar sete plantões, ou mais de 96 horas de jornada seguidas, em seu trabalho em uma unidade de saúde pública em Goiás.

Mãe solteira de três filhos, ela concilia o emprego em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na cidade de Anápolis com plantões algumas vezes por mês em um hospital universitário em Uberlândia, Minas Gerais. “Já cheguei a ter três empregos ao mesmo tempo para conseguir manter a renda da família – e mesmo assim fica tudo muito apertado”, conta.

Por isso, assim que ficou sabendo que colegas de profissão estavam emigrando para os Estados Unidos com ofertas de salário atrativas em dólar, além de jornadas consideravelmente menores do que no Brasil, Thaysa se interessou imediatamente.

Após alguma pesquisa, descobriu que existe um mercado aberto nos EUA para trabalhadores da área da saúde dispostos a revalidar seus diplomas emitidos no exterior – e decidiu seguir o mesmo caminho.

“Tinha vontade de me mudar para os Estados Unidos desde que fiz uma viagem a turismo em 2019, mas só comecei a enxergar uma possibilidade real quando vários colegas deram entrada no processo e conseguiram arrumar emprego e visto”, diz a goiana.

Segundo especialistas em imigração, uma grande oferta de vagas em hospitais e consultórios, somadas a salários atrativos, estão motivando uma onda recente de imigração de profissionais qualificados da área da saúde para terras norte-americanas.

Estudo do American Immigration Council mostra que o setor de saúde é o que mais tem participação de imigrantes na força de trabalho, com 15,6%. Na média nacional, os estrangeiros representam 13,7% da população.

E parte dessa força está vindo do Brasil. Um levantamento realizado pelo escritório de advocacia AG Immigration com dados do Departamento de Segurança Interna dos EUA mostrou que a quantidade de brasileiros que se tornaram cidadãos americanos bateu recorde no ano fiscal de 2021: foram 12.281, um total 47,5% superior ao de 2020.

As emissões de green cards, como são chamados os vistos de residência permanente que garantem o direito de morar e trabalhar nos EUA, também aumentaram e atingiram o seu segundo maior patamar da história, com 17.952 novas expedições para brasileiros.

Em 2020, 44% dos brasileiros que receberam green cards no país obtiveram o documento por meio de contratos de trabalho.

Para Rodrigo Costa, CEO da AG Immigration, os dados são sintoma de uma nova onda de “fuga de cérebros e profissionais qualificados” para os EUA. “Temos visto um casamento entre um mercado extremamente carente de profissionais e uma imigração brasileira cada vez mais capacitada”, diz.

Segundo um levantamento do think tank Migration Policy Institute usando dados do censo americano de 2019, 42,5% dos brasileiros nos Estados Unidos tem pelo menos um diploma de graduação – um percentual superior ao da população de imigrantes em geral, que é de 32,7%, e até dos nascidos nos Estados Unidos, que está em 33,3%.

Entre os recém-chegados (que imigraram para os EUA há até cinco anos) do Brasil, há ainda mais profissionais qualificados: 52,8% do total completou pelo menos o ensino superior.

De acordo com Rodrigo Costa, entre os que vão estão muitos médicos, enfermeiros, dentistas e fisioterapeutas que esperam encontrar mais reconhecimento, melhor qualidade de vida e novas experiências nos Estados Unidos.

Foram exatamente esses fatores que influenciaram a decisão de Thaysa de se mudar definitivamente para os EUA. “Pensei muito nos meus filhos, nas oportunidades e na educação de qualidade que irão encontrar por lá”, conta.

A goiana iniciou o envio de documentos para a organização responsável pelo processo de revalidação do diploma em abril de 2020. Em março deste ano, foi aprovada no exame nacional exigido para todos os profissionais de enfermagem e obteve seu certificado para trabalhar, tudo sem sair do Brasil.

“Três dias depois de ser aprovada no exame, recebi minha primeira oferta de emprego. Decidi aguardar outras oportunidades e já recebi outras cinco ofertas”, diz Thaysa, que tem planos de se mudar permanentemente para os EUA até março de 2023.

A empresa escolhida pela enfermeira será responsável por dar início e arcar com os custos do processo imigratório.

“Alguns hospitais me ofereceram bônus em dinheiro, passagens aéreas, seguro saúde completo, três meses de aluguel para começar a vida e até carta de crédito para comprar um carro – tudo para que eu assinasse o contrato com eles o mais rápido possível”, relata Thaysa sobre as conversas que teve com os empregadores durante as entrevistas de emprego.

(Portal Terra)

Foto: Reprodução/Getty Images

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