• 29 de abril de 2024

OPINIÃO | A dependência estratégica brasileira – por professor Paulo Foina

O Brasil sofre de um processo de desindustrialização paulatina desde os anos 1990. Muitas coisas que hoje importamos eram fabricadas localmente. Com a abertura do nosso mercado no governo Collor, nossas indústrias, que por muito tempo não tinham motivos para se modernizarem, se viram frente a uma concorrência muito mais eficiente e com melhor qualidade. 

Muitas empresas simplesmente encerram as suas atividades por não conseguirem competir com as empresas estrangeiras. Outras optaram por firmar parcerias com empresas internacionais e passaram a importar os produtos quase prontos (em regime de O&M) e colocam suas marcas aqui. Umas poucas modernizaram seus equipamentos e treinaram seus funcionários para competirem em melhores condições com os produtos importados. 

A estratégia econômica que permeia os governos desde aquela época é de que não vale a pena produzir no Brasil, e vender mais caro, o que se pode importar a um preço muito menor. Isso ajuda a manter a inflação mais baixa e oferece preços menores aos consumidores.

Hoje não conseguimos competir com quase nenhum produto por não oferecer preços atraentes, pois temos elevados impostos sobre a produção, custos trabalhistas exorbitantes, parque fabril obsoleto e mão de obra desatualizada. Importar é muito mais barato! E é mesmo, exceto em situações de crise como foi a pandemia de Covid-19.

No começo da pandemia ficou evidente o nosso grau de dependência de produtos importados. Por aqui, não produzíamos respiradores, seringas descartáveis, insumos para vacina e remédio e nem mesmo máscaras de proteção facial. Com o fechamento das empresas chinesas, ficamos sem esses produtos e tivemos que improvisar enquanto corríamos para tentar produzir o que estava faltando.

Felizmente nossos institutos de pesquisas, em parceria com algumas indústrias, conseguiram produzir produtos e equipamentos de maior necessidade (respiradores, máscaras faciais, vacinas e outros medicamentos) mostrando que, quando demandados, nossos pesquisadores e empresários conseguem responder rapidamente às necessidades da sociedade.

Esse episódio nos levou a refletir sobre o grau de dependência de insumos que temos com alguns países, notadamente a China. 96% de todo insumo (IFA) para a produção de antibióticos vem da China e da Índia. Todos os equipamentos de ultrassonografia são importados, assim como praticamente todo material usado nos procedimentos médicos e ambulatoriais. Boa parte dos fertilizantes necessários para nossa produção agrícola é importada. Toda nossa rede de comunicação telefônica e de Internet é importada ou apenas montada no Brasil.

Não podemos aceitar e defender que o Brasil consuma apenas produtos fabricados internamente, como foi política no passado, mas alguns insumos estratégicos devemos produzir em nossas indústrias, mesmo que o preço final seja maior que o dos importados.

O desafio é identificar quais são esses insumos estratégicos e se temos empresas e mão de obra qualificada para produzi-los.

Para alguns insumos, basta produzir localmente, importando a tecnologia e o processo produtivo. Para outros devemos desenvolver nossa própria tecnologia, como é o caso de equipamentos de defesa e segurança, energia e outros.

Assumindo que a produção de alguns insumos venha a ser totalmente brasileira, devemos cuidar para que os fabricantes desses insumos, que agora não terão concorrentes, mantenham a eficiência, a qualidade e a atualidade equivalente aos insumos importados. Se forem insumos para os governos, os editais de compra podem privilegiar as empresas nacionais, como faz boa parte dos países industrializados. Se forem insumos para empresas privadas, os governos, nas três esferas, podem dar isenção de impostos para que os preços sejam mais próximos dos produtos importados.

Temos esses desafios pela frente. Áreas como saúde, segurança pública, defesa, energia e telecomunicações são fortes candidatas a terem alguns insumos produzidos no Brasil. Outras áreas também podem ter seus próprios insumos estratégicos.

Paulo Rogério Foina é físico com mestrado e doutorado em Computação e pós-doutorado em Engenharia de Sistemas. Professor, pesquisador, empresário e atuou como executivo de tecnologia de grandes empresas nacionais e multinacionais. Atualmente é presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação – ABIPTI.

Foto: Reprodução/Google Imagens 

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