Durante meses, investigadores da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), acompanharam os passos da quadrilha que comandava um milionário mercado de vendas de cargas roubadas no DF e Entorno.
Por meio das filmagens, os policiais constataram que, muitas vezes, mercadorias roubadas nas estradas iam direto para as prateleiras dos supermercados e em forma de promoção.
Os agentes descobriram que uma carga roubada em março deste ano foi colocada nas gôndolas do supermercado Bonamix, no Gama, horas após o assalto. Pacotes de 500g de pó de café estavam sendo vendidos por R$ 7,99. O preço antigo, de acordo com o anúncio, era R$ 8,49.
No mesmo mês, o produto foi apreendido pela polícia. O responsável pelo supermercado alegou que fez o pagamento por meio de transferência bancária e dinheiro em espécie. A fornecedora se chama Atlanta e seu endereço cadastral junto à Secretaria de Fazenda era em uma igreja de Santa Maria.
O advogado Denis Sarausa, que representa a Bonamix, diz que a empresa é tão vítima quanto o Estado. “Compramos somente produtos com nota fiscal e a diferença de preço oscila de um fornecedor para o outro. As notas foram emitidas pela Atlanta. Até então, não tínhamos noção dos fatos. Estamos dispostos a colaborar com as investigações para demonstrar nossa boa-fé e elucidar o caso”.
A Corpatri mostrou que a Atlanta era apenas uma das empresas de fachada criadas pelo líder do esquema, Eduardo Fideles de Andrade, 44 anos. Ele usava o nome de laranjas para abrir as firmas. Para isso, pagava-lhes uma taxa mensal.
Devido à alta quantidade de produtos roubados, os criminosos precisaram alugar galpões para armazenagem. Um ficava em Ponte Alta, no Gama. Outro, em Ceilândia. Ambos foram alvos de apreensão pela polícia no decorrer das investigações.
Bem-articulados
As apurações mostram que os criminosos atuavam há pelo menos quatro anos. O esquema funcionava como uma verdadeira central de distribuição, tendo como fornecedores assaltantes do Entorno do Distrito Federal. Eles atuavam, principalmente, às margens das BRs 060 e 153.
Havia, ainda, integrantes responsáveis apenas por negociar as cargas roubadas. Os criminosos contavam com atravessadores, que intermediavam com os supermercados de Santa Maria, Gama, Ceilândia e Samambaia as vendas das mercadorias obtidas ilegalmente.
Os criminosos usavam as empresas de fachada na emissão irregular de notas fiscais para “esquentar” os produtos roubados e inseri-los nas prateleiras de estabelecimentos comerciais. Uma delas movimentou, sozinha, ao menos R$ 100 milhões em um ano.
O esquema também se valia de um ciclo de companhias, sucessivamente “descartando” e criando novas para não chamar atenção das autoridades. A Polícia Civil identificou um grande número de laranjas e testas de ferro que figuravam como sócios dessas empresas.
Operação Vocatus
Ao todo, 11 pessoas foram alvo de mandados de prisão da megaoperação. A PCDF saiu às ruas na manha dessa quarta (13/6) com 200 homens para cumprir, ainda, outras três conduções coercitivas (quando a pessoa é obrigada a depor) e 22 ordens judiciais de busca e apreensão.
A operação, batizada de Vocatus, ocorreu em Águas Claras, São Sebastião, Gama, Estrutural e Cidade Ocidental (GO).
A Operação Vocatus é um desdobramento de outra ação, deflagrada em 7 de março deste ano, na qual foram apreendidas aproximadamente 50 toneladas de mercadorias roubadas. O flagrante ocorreu em Ponte Alta, Gama.
Matéria do site Metrópoles
Fotos: Divulgação/Metrópoles