Suspeito de desvios nos dízimos e taxas de paróquias em Formosa, cidade goiana a 90km de Brasília, o bispo dom José Ronaldo relacionou o papa Francisco como testemunha de defesa. No documento apresentado pelo advogado do religioso, Lucas Rivas, consta o nome de batismo do pontífice: Jorge Mario Bergoglio.
A relação, encaminhada à 2ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), afirma que Francisco pode ser encontrado na “Prefeitura da Casa Pontifícia, CEP 00120, Roma/Itália”. O endereço corresponde ao Vaticano.
O advogado do bispo de Formosa não quis revelar detalhes da estratégia de defesa e argumentou ao Metrópoles que “o testemunho do papa tem uma motivação estritamente técnica”.
Nas situações em que a testemunha está fora do país, o juiz do caso precisa encaminhar uma carta rogatória. O envio do documento é o procedimento jurídico adotado como forma de comunicação entre o Judiciário de países diferentes, com o objetivo de obter colaboração para prática de atos processuais, conforme define o glossário do Supremo Tribunal Federal (STF).
O bispo da Arquidiocese de Brasília, dom Marcony Vinícius Ferreira, também está arrolado no rol de pelo menos 32 testemunhas de defesa apresentado pelo defensor de dom José Ronaldo.
O Metrópoles questionou a Secretaria de Comunicação do Vaticano sobre a participação do papa Francisco no processo contra o bispo de Formosa. No entanto, até a última atualização desta reportagem, a Santa Sé não havia se pronunciado.
Operação Caifás
Dom José Ronaldo está no centro das denúncias do Ministério Público de Goiás (MPGO) contra a Diocese de Formosa. De acordo com os investigadores, ele seria o mentor do esquema criminoso. A suspeita é de que o grupo ligado ao religioso tenha desviado cerca de R$ 2 milhões da Igreja.
As investigações começaram após o Ministério Público ter recebido denúncias de fiéis que desconfiaram das irregularidades, supostamente iniciadas em 2015. Entre as suspeitas, estava o fato de as despesas da casa episcopal de Formosa, onde o bispo mora, terem passado de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde que dom José Ronaldo assumiu o posto.
Além disso, segundo interceptações telefônicas, o grupo teria usado o dinheiro para comprar bens, como fazenda de gado, casa lotérica e veículos de luxo.
No total, nove pessoas foram presas na operação, deflagrada em 19 de março. O bispo de Formosa e outros seis religiosos foram soltos em 17 de abril.
A defesa dos envolvidos nega as irregularidades e declara a origem dos recursos como “fruto de muito trabalho dos padres”.
Matéria do site Metrópoles
Foto: Divulgação/Metrópoles