A Polícia Civil de Santa Catarina suspeita que a quadrilha fortemente armada, responsável por praticar um mega-assalto na madrugada desta terça (1º) contra o Banco do Brasil em Criciúma, seja composta por integrantes de fora do Estado, principalmente de São Paulo. Segundo investigadores, o roubo envolveu ao menos 30 criminosos e dez veículos. Por enquanto, os agentes não veem indícios de participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) ou de outra facção criminosa brasileira.
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O assalto da madrugada é o maior já registrado na história de Santa Catarina, de acordo com a Polícia Civil. Até então, o posto era ocupado pelo roubo de cerca de R$ 9,8 milhões no Aeroporto Quero-Quero, em Blumenau, ocorrido em março de 2019, que deixou uma mulher morta e dois vigilantes feridos.
O primeiro ato dos bandidos foi atacar a sede do 9º Batalhão da Polícia Militar para retardar a reação da polícia. Por volta das 23h40, a quadrilha atirou em janelas e na fachada, incendiou um caminhão na entrada do prédio e instalou explosivos, com acionamento remoto por celular, no entorno. Houve troca de tiros e o soldado Jeferson Luiz Esmeraldino, de 32 anos, acabou baleado. Ele já passou por três cirurgias e está em estado grave.
O assalto durou cerca de 2 horas e os bandidos usaram armamento pesado, incluindo fuzis .556, .762 e .50, capaz de varar blindados e derrubar aeronaves. Para fechar entradas da cidade, os criminosos queimaram um veículo no túnel que liga Criciúma a Tubarão, bloqueando o contato terrestre com a capital Florianópolis, e obrigaram reféns a sentar no meio da rua, formando uma espécie de “escudo humano” contra a ação policial, nas proximidades da agência.
“Já temos absoluta certeza de que se trata de ação planejada com vários meses de antecedência. Foi feita com muito planejamento e investimento dos criminosos”, afirmou o delegado Anselmo Cruz, titular da divisão antissequestro da Diretoria de Investigações Criminais (Deic). “Isso já de pronto nos remete a grupos de fora do Estado, porque não temos esse perfil em Santa Catarina.”
Segundo Cruz, a principal hipótese é que o crime envolva bandidos “autônomos” com experiência em outros grandes roubos no País. “Pode até haver algum integrante, alguém que seja efetivamente do Estado, mas sabemos que esse tipo de ação é proveniente de fora, especialmente de São Paulo”, disse. “Não se tem apontamento algum de que sejam integrantes de facção criminosa, mas de assaltantes já conhecidos no mercado e possivelmente responsáveis por ações mais violentas nos últimos anos.”
Preservar os moradores
Em entrevista coletiva nesta terça-feira, porta-vozes da PM afirmaram que trabalharam para monitorar o perímetro da área, evitando confronto direto com os assaltantes.
“Nossa orientação foi fazer apenas a contenção da área, para preservar vidas, porque era uma área residencial”, afirmou o coronel Marcelo Pontes. “Estavam fortemente armados, com explosivos. Evitamos confronto para salvar vidas.”
Também na coletiva, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés, admitiu que “a ação foi bem-sucedida para os marginais, essa é a verdade”. Mas afirmou que a polícia tem sido sucesso em desvendar crimes semelhantes a esse ocorridos anteriormente no Estado.
Os investigadores suspeitam que a quadrilha tenha fugido depois em direção a Nova Veneza, município vizinho a Criciúma. Foi no caminho que os policiais encontraram veículos abandonados pelos criminosos. Em dois deles havia marcas de sangue, de acordo com os policiais. A suspeita é que um bandido tenha se ferido na troca de tiros em frente ao batalhão da PM e o outro, ao acionar um dos explosivos.
A polícia trabalha agora para tentar pegar os assaltantes em fuga, por isso, montou bloqueios em áreas de divisas. Duas aeronaves da PM também fazem buscas na região. Um esquadrão antibombas realizou ainda uma explosão controlada, em bairro na zona norte da cidade, para desarmar dispositivos que teriam sido deixados pela quadrilha.
“Criciúma viveu algo surreal, um momento de terror aqui na nossa cidade. Nem nos piores momentos da nossa imaginação passamos por algo tão dramático”, disse o prefeito Clésio Salvaro (PSDB). “Se o propósito dos bandidos era vir aqui e roubar dinheiro, eles conseguiram. Se era causar terror, eles conseguiram. Mas a vida sempre está no primeiro plano e elas foram preservadas”.
Quatro pessoas homens foram detidos em flagrante com R$ 810 mil em uma casa próxima ao centro – é possível que eles não tenham participação com o mega-assalto e tenham apenas se aproveitado para furtar o dinheiro deixado para trás pelos assaltantes.
Foto: Reuters / BBC News Brasil
Dez carros usados no assalto foram aprendidos em uma propriedade rural perto em Nova Veneza, perto de Criciúma. “Já identificamos os veículos. (O objetivo agora é) entender a forma de fuga” e o rumo dos criminosos.
“Eles (criminosos) devem ter ficado dias estudando a nossa cidade”, disse o prefeito à CNN Brasil. “Foi uma noite atípica, de terror para os padrões da nossa cidade (de 220 mil habitantes), foi surreal.”
Ele destacou que não havia chegado a ele nenhum indício ou informação de inteligência que pudesse indicar a ação da madrugada desta terça.
“Todas as forças policiais do Estado de Santa Catarina estão trabalhando em conjunto em busca de informações e da identificação dos autores desse crime”, afirmou em nota o delegado geral da Polícia Civil, Paulo Koerich.
Matéria adaptada com informações da Agência Estadão Conteúdo e BBC News Brasil
Foto: Reprodução Agência Reuters