O presidente regional do PRB, Wanderley Tavares, partido comandado pela Igreja Universal do Reino de Deus e que conta com o apoio da Assembleia de Deus Madureira, é um dos investigados no esquema milionário de corrupção que funcionava dentro da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Wanderley é réu numa ação judicial que o acusa de crimes de corrupção ativa e passiva, além de formação de quadrilha. O caso veio à tona por meio da Operação Mãos à Obra, um dos desdobramentos da Lava Jato em solo carioca.
O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, aceitou analisar denúncia apresentada contra Wanderley Tavares pelo Ministério Público Federal (MPF) baseado em acordo de leniência de executivos da carioca Christian Nielsen. O MPF aponta que os acertos ilícitos para vantagens indevidas giravam em torno do consórcio formado pelas empresas Dynatest Engenharia e TCDI Consultoria e Tecnologia, em contratos que somaram R$ 26,1 milhões.
De acordo com a delação premiada do empresário Celso Reinaldo Ramos Júnior, a organização criminosa supostamente liderada pelo então secretário-municipal de Obras do Rio, Alexandre Pinto, na gestão do ex-prefeito Eduardo Paes (PMDB), teria tentado tirar do dinheiro público destinado ao pagamento de contratos propina na ordem de R$ 2,2 milhões. O valor correspondente a 8,5% do total de R$ 26,1 milhões.
Wanderley Tavares está sendo cotado para ser um dos suplentes do senador Cristovam Buarque (PPS). O dirigente chegou a figurar entre os pré-candidatos ao governo do DF pela “Terceira Via”, como não é conhecido em Brasília o suficiente, deverá ficar com a vaga de suplente.
No Rio, Wanderley ficou conhecido como o homem responsável por aprovar as planilhas de propina no esquema ilícito da secretaria municipal de Obras, em contratos para os serviços de monitoramento das obras do BRT Transbrasil – corredor exclusivo entre o centro da cidade e o bairro de Deodoro. Na denúncia de 91 páginas do MPF, à qual o portal Metrópoles teve acesso, é dito que a empresa TCDI, cujo dono era Wanderley Tavares, entrou no consórcio por exigência do ex-secretário Alexandre Pinto.
Segundo um dos trechos do documento do MPF, “o ex-secretário fixou percentual de 20% de participação da TCDI no contrato com o objetivo de beneficiar o proprietário da referida empresa, Wanderley Tavares da Silva, que possuía influência no Ministério das Cidades e auxiliaria a Prefeitura do Rio de Janeiro na alocação de recursos federais nas obras do município, e com quem Alexandre Pinto mantinha laços de amizade”.
Planilhas da propina
Ainda conforme o MPF, as planilhas com os lançamentos dos pagamentos das vantagens indevidas precisavam ter a anuência de Wanderley. “Todos os valores de propina ajustados foram incluídos nas planilhas de estudos de custos do projeto, que passaram pela análise de Manoel Reigota e Wanderley Tavares”, aponta outro trecho da denúncia acatada pelo juiz Marcelo Bretas.
Os lançamentos estavam em e-mails trocados com os outros integrantes do grupo, segundo o MPF. Os pagamentos da propina ficaram a cargo do líder do consórcio da Dynatest, que tinha relacionamento com Alexandre Pinto e com o delator do esquema Celso Júnior.
Para viabilizar a propina solicitada por Alexandre Pinto foi constituída uma Sociedade em Conta de Participação (SCP) formada pela empresa Dynatest e a RR Alpha. Por meio desse grupo, teria havido a transferência de R$ 1 milhão em 8 de julho de 2015.
Intimidade
E-mails trocados entre Wanderley e Alexandre Pinto demonstraram intimidade entre os dois. Além da marcação dos encontros e dos pedidos de liquidação de contratos entre a Secretaria Municipal de Obras do Rio de Janeiro e a empresa de Wanderley, os dois combinavam de sair juntos, tomar vinho, falavam da família e dos filhos.
Em um organograma sobre como funcionava o grupo, os procuradores da Operação Mãos à Obra explicam que, nos mesmos moldes existentes em relação às demais organizações criminosas investigadas pela Lava Jato, a estrutura tinha divisão de tarefas em três núcleos básicos.
De acordo com o Ministério Público Federal, o núcleo econômico era formado por executivos das empreiteiras contratadas para execução de obras pelo município do Rio de Janeiro, entre elas, a Carioca Christiani Nielsen, a construtora OAS e a empreiteira Andrade Gutierrez. Também teriam participação os responsáveis por empresas prestadoras de serviços, como a Dynates e TCDI e seus executivos, e os denunciados Ernesto Simões Preussler, Rui Alves, Éder Parreira e Wanderley Tavares da Silva.
Outra parte do esquema era tocado pelo núcleo administrativo, composto por gestores públicos e pessoas relacionadas. Entre eles, o ex-secretário de Obras da Prefeitura do Rio de Janeiro Alexandre Pinto. A terceira formação era a operacional, da qual fazia parte os responsáveis por receber e repassar as vantagens indevidas.
Outro lado
Segundo os advogados do presidente do PRB-DF, Wanderley Tavares não participou das tratativas sobre os pagamentos de propina. Além disso, “outras pessoas foram apontadas como responsáveis pela estruturação da forma de pagamento da propina, sem qualquer vinculação ao acusado”.
“A denúncia apresentada em desfavor do presidente do PRB [-DF], Wanderley Tavares, é inverídica e se ampara, tão somente, em suposições fictícias de delatores. Temos convicção que o processo judicial servirá para provar a inocência de Wanderley”, afirmou o advogado Bernardo Fenelon.
Além disso, a defesa afirma que nenhuma planilha encaminhada pela Dynatest foi aprovada pelo presidente do PRB-DF, conforme estaria comprovado em e-mails devidamente enviados à Justiça.
“Há evidente equívoco dos fatos apresentados na denúncia, pois, diferente da suposição do parquet, que afirma a anuência do acusado às planilhas que continham supostos valores de propina, este jamais concordou ou aprovou tais documentos (planilhas de previsão de despesas) encaminhados pela Dynatest e Celso Junior”, registrou a defesa no processo.
“Depois de irremediável enfrentamento comercial, Wanderley e os proprietários da Dynatest decidiram romper o contrato, que ocorreu sucessivamente”, acrescentou a defesa. “Desta forma, o consórcio continuou sendo administrado pela Dynatest, sem, contudo, qualquer participação pela TCDI. A saída formal do consórcio somente não ocorreu porque causaria interrupção burocrática na execução do contrato, eis que a obra fazia parte do caderno das Olimpíadas e da Copa do Mundo”, concluíram os advogados no documento.
Sobre a denúncia de que a TCDI só teria entrado no consórcio devido à indicação do ex-secretário municipal de Obras do município do Rio de Janeiro, a alegação da defesa é que a empresa foi escolhida por causa da expertise de mercado.
Matéria do portal Metrópoles com adaptações da Redação
Fotos: Google Imagens e reprodução da matéria