“O governo precisa debater aquilo que ele pretende fazer, tanto com a gente como com a população”, Rafael Prudente, deputado distrital e presidente da CLDF
O mais jovem deputado distrital a comandar a Câmara Legislativa do DF (CLDF), o deputado Rafael Prudente (MDB) terá um desafio árduo pela frente. Rafael está ciente que a imagem dos políticos, em especial da CLDF, está arranhada. Rafael Prudente é um brasiliense que carrega com ele um jeito goiano que deve ter herdado do pai, o ex-distrital Leonardo Prudente. Expõe de forma clara e objetiva as suas ideias. Começou a trabalhar aos 15 anos na empresa da família ocupando um cargo no almoxarifado, diferente de outras famílias que já colocam seus filhos em cargos de direção. Desde então, como ele mesmo nos relatou, está acostumado a encarar desafios e cumprir missões. Ele considera que convencer a família a deixá-lo entrar para a vida pública foi um dos seus maiores desafios, pois haviam passado pelo dilema do pai se retirar do cenário político local. Eis que partiu de um grupo de 10 pessoas para disputar uma das cadeiras da CLDF pela primeira vez em 2014 e se elegeu com pouco mais de 17 mil votos. Em 2018, Rafael conseguiu ampliar a sua votação ultrapassando a marca dos 25 mil votos. Rafael Prudente, aos 35 anos, será o responsável por conduzir as votações na CLDF nos próximos dois anos cabendo a ele ter pulso para não deixar que o parlamento local se submeta às vontades do Poder Executivo. Para Prudente, a relação com o governo Ibaneis será harmoniosa e independente.
Na sexta-feira (11), tivemos a honra de ser o primeiro blog a ser recebido por Rafael Prudente, no gabinete da presidência da CLDF, após a sua eleição. Confira a entrevista exclusiva concedida ao Expressão Brasiliense.
Expressão Brasiliense: Deputado, como que o Rafael Prudente se apresenta?
Rafael Prudente: Primeiro, quero agradecer a vocês do Expressão Brasiliense de estar aqui conosco. Bem, o Rafael Prudente é casado, pai de dois filhos, sou aqui de Brasília mesmo. Formado em Administração de Empresas. Comecei a trabalhar aos 15 anos. Iniciei num cargo pequeno, lá de debaixo. Graças a Deus tive a oportunidade de começar numa empresa familiar. Mas, trabalhei em outras empresas também. Fui diretor de uma multinacional na área de limpeza urbana e em 2013 recebi o convite para me filiar ao PMDB, hoje, MDB e em 2014 começamos a fazer algumas reuniões para tratar de política, não necessariamente que eu seria candidato. Mas, pelo fato de meu pai ter tido uma história política na cidade, o procuraram juntamente comigo para saber que rumo nós tomaríamos. Acabou que as coisas convergiram para que eu disputasse as eleições de 2014 e conseguimos ganhar bem a eleição com um pouco mais de 17 mil votos. Uma votação que considero bem expressiva, fruto de um trabalho árduo. E de lá pra cá, o que a gente vem fazendo é trabalhar pela cidade e tivemos o reconhecimento da população, pois tivemos, inclusive, um crescimento no número de votos nessa última eleição. Eu sempre cumpri muitas missões. Tive a missão de criar uma empresa. Depois criar novas filiais para expandir a atuação dessa empresa por outras unidades federativas do país. E tive a missão, que considero que foi natural, de compor e manter um grupo político que não tinha mais chances…
EB: O senhor acha que não tinha chances? Começou a partir daí a se desenhar sua campanha?
RP: Com certeza não tínhamos chances. Partimos de um grupo de 10 pessoas, começamos a fazer reuniões na casa de amigos e aos poucos fomos crescendo. Fizemos reuniões em Planaltina, São Sebastião….
EB: Mas, o senhor não teve o apoio de ninguém que participava do grupo político do seu pai?
RP: Muitas pessoas com o hiato de quatro anos após a saída do meu pai da vida pública assumiram compromisso com outros líderes políticos. Quando decidimos nos candidatar, elas já não podiam voltar atrás e nós entendemos. Elas se acomodaram em outros grupos o que é natural. Mas também houve pessoas que migraram para o nosso projeto para voltar a trabalhar com a gente por conhecer a forma do nosso grupo atuar e a história política da família. A nossa campanha sempre foi feita dessa forma. Talvez, aqui da Câmara, nós somos um dos poucos a atuar desse jeito. Nós não temos uma empresa grande. As pessoas vivem falando: – Ah, o Rafael Prudente tem uma empresa que tem 10 mil, 5 mil funcionários. É bom deixar claro que a nossa empresa, a empresa da minha família é bem-sucedida. Porém, aqui no Distrito Federal nós temos um pouco mais de mil funcionários. Não tem como você fazer uma campanha como as pessoas falam baseada nos funcionários só da empresa. Não existe isso. O funcionário é um cidadão comum que se ele gostar de você, ele vota e se não gostar, ele não vota. Então, nós não temos uma base. Ah, o Rafael é o candidato da polícia. É o candidato da saúde. É o candidato da educação. É o candidato dos bombeiros. É o candidato dos vigilantes. Não. O Rafael é o candidato que visita às famílias, que visita as cidades, que tem um projeto para o DF, que conversa com as pessoas e que graças a Deus tivemos êxito. Nós passamos um bom tempo visitando as pessoas, conversando com os líderes das cidades, fazendo um trabalho de convencimento para que as pessoas estivessem conosco. Se a pessoa não acreditar no seu projeto, não adianta, ela não estará com você.
EB: Certo, mas, antes de avançar para a sua atuação parlamentar, a nível de curiosidade, o senhor entrou para a política por vontade sua ou de seu pai?
RP: Na verdade, meu pai estava muito preocupado com tudo que havia acontecido e meu pai se mostrava muito desanimado com a política em si. Mas, foi uma posição minha. Posso dizer que foi um trabalho difícil, pois tive que convencer os familiares. Quando você se envolve com uma campanha eleitoral você deve começar de dentro de casa. Você precisa de ter o apoio de dentro de casa. O primeiro dever de casa foi convencer meu pai, minha esposa, minha mãe que tinha sofrido muito com tudo que aconteceu, a esposa do meu pai também e meus irmãos. E fomos bem-sucedidos nessa peregrinação junto a família. Depois, procurei fazer o dever de casa mostrando aquilo que queria fazer para dar prosseguimento e apresentar nossos projetos para o DF.
EB: E quais seriam esses projetos voltados para o DF?
RP: Olha, o que a gente tem feito para a cidade é para que os investimentos aconteçam. As pessoas que não têm asfalto em sua porta, a gente correr atrás para que o governo atenda essa demanda. É uma saúde pública decente para todo mundo. Talvez, eu tenha sido um dos parlamentares que mais denunciou o caos na saúde pública nos últimos anos. Nós batalhamos muito aqui para aprovar alguns projetos com a Luos, ZEE, RLE, para que a gente tenha uma cidade com menos burocracia e possa ver os investimentos e a geração de empregos voltando a crescer em nossa cidade. Então, as nossas bandeiras são essas: geração de emprego, investimentos, desburocratização e tudo aquilo que a gente possa fazer, claro respeitando os limites legais aqui da Câmara. Aqui tem um detalhe muito interessante: 90% do que as pessoas nos pedem diz respeito ao Poder Executivo. Em tese, o que a gente faz aqui é pedir ao governo o que a população pede para nós. Nós somos muito próximo da população. A marca do nosso mandato será a proximidade com os cidadãos brasilienses e é um desafio para a própria Câmara que muitas pessoas não sabem ainda qual é o papel da Câmara Legislativa. Nós vamos fazer com que as pessoas entendam o processo e elas se sintam parte dele.
EB: O Rafael Prudente então não é um deputado de uma cidade só ou de uma bandeira específica?
RP: Nós temos que ter compromisso com todas as cidades. Eu visitei e tenho visitado todas as cidades. Não tem essa de escolher uma ou mais cidades para trabalhar. E vou continuar atuando dessa forma para que todos os problemas sejam resolvidos.
EB: E chegando na Câmara Legislativa, o senhor sofreu algum tipo de preconceito ou retaliação por ser filho de um ex-presidente da casa?
RP: De maneira nenhuma. Fui muito bem recebido pelos meus pares. Eu venho de um segmento onde a gente toma decisões difíceis todos os dias. O seu sucesso depende da sua posição, do seu enfrentamento e da sua decisão. No mundo empresarial, você se acostuma a tomar decisões todos os dias…
EB: Mas na Câmara é diferente?
RP: É completamente bem diferente. Você depende muito de um outro poder chamado Poder Executivo. Se for ver mesmo, chega a ser 90%. Aqui na Ouvidoria da CLDF, chega a ser 99%. É difícil você depender de outro para resolver os problemas de quem está precisando. Infelizmente, temos as nossas limitações e a gente aprende a trabalhar com elas. É por isso que a gente visita muito as cidades para ter conhecimento do que está se passando e por consequência a gente visita muitas empresas e órgãos públicos para encaminhar essas demandas e ajudar a população.
EB: Deputado, atuar dessa forma não desvirtua do que realmente tem que ser a função de um parlamentar?
RP: Não. O nosso papel é legislar e fiscalizar. E isso é uma forma de fiscalizar o Executivo porque a partir do momento que uma reclamação chega para gente, nós temos a obrigação de cobrar do governo que ele entregue aquilo que a população quer. As pessoas esperam uma pronta resposta. Elas querem que os políticos tratem com o governo para que resolva o problema delas. Nós somos fiscais nomeados pelo povo para fiscalizar o governo. E nós exercemos esse papel que vai muito além disso. Por exemplo, nós fiscalizamos a legislação, pois debatemos os projetos antes de serem submetidos a votação. O atual governo está querendo enviar projetos importantes para que a gente vote, talvez até agora nesse período de recesso, mas não sabemos ainda quais são, qual será o seu impacto. É bom deixar claro que tudo que chegar aqui, nós não somos e não seremos “carimbadores” de projetos do Poder Executivo. O governo precisa debater aquilo que ele pretende fazer, tanto com a gente como com a população. Esse é um papel importante da Câmara Legislativa que é a caixa de ressonância da população. Tudo que chega no Buriti (sede do GDF) e não é resolvido, cinco minutos depois atravessa a rua e acaba vindo parar aqui na Câmara Legislativa para a gente articular ou arrumar uma solução.
EB: Qual projeto do Rafael Prudente que o senhor considera que foi importante no seu primeiro mandato?
RP: Um projeto importante que nós aprovamos é a proibição da criação de novos setores habitacionais sem ter condições das pessoas morarem ali. E o que seriam essas condições? Muitas vezes se criam cidades ou setores em cidades já existentes que não tem um comércio por perto, não tem uma Área de Desenvolvimento Econômico (ADE) para que possa gerar emprego para as pessoas, não tem uma escola, não tem um posto ou centro de saúde, não tem um batalhão da PM, não tem delegacia, não tem nem mesmo uma parada de ônibus, ou seja, criam-se cidades somente só para pessoas, sem nenhum tipo de equipamento público. O projeto é no sentido de proibir que instalem as famílias de qualquer jeito. Não se trata de impedir o crescimento daquelas que estão prontas, mas de criar novos setores de forma desorganizada. Outro projeto que destaco desse primeiro mandato, é o que determina a empregabilidade de dependentes químicos, pois o governo gasta muito dinheiro com pessoas que estão nessa situação no que diz respeito à saúde por também não gerar oportunidade de que sejam reinseridos na sociedade. Ao todo, foram 33 projetos que se transformaram em leis.
EB: Deputado, vamos agora passar para a parte da sua atuação como presidente da Câmara Legislativa. Nos bastidores, considera-se que houve interferência por parte do governador Ibaneis em favor do seu nome. Foi isso mesmo?
RP: Interferência houve em outros governos. Vocês da imprensa acompanharam como foram as eleições passadas. Havia consenso em torno de um nome e o governador pesava a mão em favor daquele que melhor lhe atendia. Na eleição da deputada Celina, o próprio governador (Rodrigo Rollemberg) ligou pessoalmente para cada deputado tirando de um projeto e passando para outro. A eleição do deputado Joe Valle nós saímos vencedores, mas com toda força do governador interferindo. Na época, o governador Agnelo fez os dois candidatos do seu partido também. Nós tivemos agora dois candidatos que contaram com o apoio do governador. Nunca tinha acontecido de uma eleição ser decidida 15 dias antes.
EB: Mas, não pesou a favor do senhor ser do partido dele?
RP: Isso pesa a favor e contra ao mesmo tempo.
EB: Por quê?
RP: Pesa a favor porque as pessoas diziam que eu seria o candidato do governador por ser do partido dele. As pessoas querem estar nesse primeiro momento estar mais próxima do governador justamente para que suas cidades e seus pleitos sejam atendidos. O contra são as pessoas acharem que nós vamos ser subordinados ao governo. Ah, o único deputado do partido do governador e nós vamos colocar ele para que a Câmara seja um puxadinho do Buriti. Eu acho que isso tem o risco de acontecer com qualquer um deputado. Qualquer um que seja da base pode ser visto dessa forma. O meu compromisso com os deputados é que teremos uma Câmara independente, lógico, que teremos uma proximidade com o governo com muito diálogo, mas não seremos submissos a ele. Deve haver uma relação harmoniosa entre os poderes e não de dependência ou submissão.
EB: E em relação a imagem da casa. Como a nova mesa diretora pretende atuar nessa questão?
RP: Nós vamos ter uma Câmara extremamente harmoniosa e independente em relação ao Poder Executivo. Nossas ações serão transparentes e nós vamos dialogar muito com o governo e com a população. Os projetos que serão enviados serão debatidos e vamos respeitar a posição de cada deputado, seja na comissão ou em plenário.
EB: Sobre essa possível convocação extraordinária que o governador tem anunciado que poderá ser feita agora em janeiro. Como será isso? Haverá impacto financeiro com essa convocação?
RP: Há possibilidade. Inclusive, a Lei Orgânica prevê isso. A convocação pode ser feita pelo presidente, pela maioria dos parlamentares da casa ou pelo governador. Agora, tem que saber quais são esses projetos que ele pretende enviar para a casa apreciar. Até o momento não sabemos de nada. Temos que saber qual é a importância de cada projeto e o motivo da urgência. Tem muita coisa para acontecer e nós (deputados distritais) temos que aguardar um posicionamento do governador, pois ele terá que explicar o inteiro teor de cada projeto que vai encaminhar para votação. Ou seja, vai ter que explicar a importância, a urgência e o impacto que isso terá no DF. Não é tão simples como parece. Quanto ao impacto financeiro, a Lei Orgânica prevê, mas nós vamos fazer a nossa convocação sem gerar custos aos cofres do DF.
EB: Tem algum projeto polêmico para esse início de legislatura?
RP: Tem a lei do silêncio que deverá ser debatida novamente. Tem também o projeto da Escola sem Partido. Tem a ampliação do Instituto Hospital de Base. Tem a redução de alguns impostos que ele vai ter que demonstrar como que vai conseguir reduzir e aumentar a arrecadação como está sendo dito. Tem um projeto de acordos judiciais para recuperação de créditos de pessoas que estão devendo para o GDF. Tudo isso tem os prós e os contras. Vamos ter que equilibrar isso.
EB: O senhor acha que no exercício da presidência não terá dificuldade para por esses projetos na pauta de votação?
RP: Olha, polêmico ou não, na hora que tiver que pautar, depois de tramitar nas comissões, nós vamos submeter ao plenário para poder deliberar e votar.
EB: Nós sabemos que ainda é muito cedo para fazer qualquer avaliação, mas como que o senhor está vendo esse início de gestão do governo Ibaneis?
RP: Está tudo muito recente ainda. É até difícil fazer qualquer avaliação nesse sentido. O que posso dizer é que torço muito para que esse governo dê certo. Nós viemos de governos que sucessivamente deram a sua contribuição, mas que foram rejeitados pela população e que deixaram muito a desejar. A gente espera que Brasília retome a era do desenvolvimento, a era onde as pessoas acreditam no governo e que o governo tenha credibilidade. O que nós pudermos fazer no papel de fiscalizador, pode ter certeza que faremos e vamos ajudar o governo para que ele possa ajudar a população que está carente de serviços públicos importantes e de qualidade.
EB: E em relação ao governo Bolsonaro. O senhor pensa da mesma forma?
RP: Sim, está tudo muito recente. Vamos aguardar essas reformas que estão sendo prometidas. Vamos aguardar, mas a gente tem que cobrar aquilo que foi prometido.
EB: O Rafael Prudente votou no presidente Bolsonaro?
RP: Eu fui eleitor do Bolsonaro e do Ibaneis, obviamente. Vamos torcer e acompanhar para que façam as coisas certas. A Câmara está pronta para contribuir com as mudanças necessárias.
EB: Qual mensagem que o senhor deixa para o eleitor brasiliense?
RP: Nós temos uma responsabilidade, essa é a palavra correta. Não só o Rafael Prudente, mas todos os políticos que foram eleitos. Responsabilidade. As pessoas depositaram o restinho de esperança que elas tinham nos políticos que foram eleitos. Aqui na Câmara Legislativa, nós temos uma responsabilidade muito grande de fazer o nosso papel e de que o DF tenha uma melhora nos próximos quatro anos, não só aqui como o Brasil, tenha geração de emprego, mais investimento, mais programas habitacionais, uma saúde pública decente, uma educação de qualidade e uma segurança pública melhor porque está deixando a desejar. Esse é o grande desafio. Nós temos também muita esperança de que faremos de tudo para que sejam entregues serviços públicos melhores do que tivemos nesses últimos anos.
Por José Fernando Vilela
Fotos: Expressão Brasiliense, Ass. Dep. Rafael Prudente e Google Imagens