O número de candidatos negros (soma de pardos e pretos, segundo critério do IBGE) cresceu em 2018 na comparação com 2014, mas esse grupo continua subrepresentado nas eleições deste ano. A autodeclaração dos candidatos revela que os brancos serão novamente a maioria dos rostos na urna eletrônica.
Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram um total de 28,1 mil pessoas inscritas para concorrer em outubro aos cargos de deputado estadual, deputado distrital, deputado federal, senador, governador e presidente.
Desse total, 53% são brancos, embora esse grupo racial represente cerca de 44% dos brasileiros, segundo o IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Já os negros, que são mais da metade da população (55%), somam 46% dos candidatos. Assim como no caso das candidaturas, os dados do IBGE se baseiam na autodeclaração racial.
Há também entre os candidatos registrados 131 (0,5%) indígenas e 173 (0,6%) amarelos, ou seja, com alguma ascendência asiática.
Os números foram extraídos do portal do TSE na noite do dia 20 de agosto, quando a grande maioria dos pedidos de candidatura já havia entrado no sistema, podendo sofrer alterações residuais conforme entrem novos registros ou a Justiça Eleitoral negue parte das solicitações por algum impedimento legal dos candidatos.
Há também entre os candidatos registrados 131 (0,5%) indígenas e 173 (0,6%) amarelos, ou seja, com alguma ascendência asiática.
Os números foram extraídos do portal do TSE na noite do dia 20 de agosto, quando a grande maioria dos pedidos de candidatura já havia entrado no sistema, podendo sofrer alterações residuais conforme entrem novos registros ou a Justiça Eleitoral negue parte das solicitações por algum impedimento legal dos candidatos.
A subrepresentação dos negros é detectada na grande maioria dos 35 partidos existentes no país, mas é mais intensa em seis legendas, que têm mais de 60% dos seus candidatos brancos: Novo, PCO, PSDB, PSD, PP e MDB.
Na outra ponta, as siglas que apresentam maior percentual de concorrentes negros (54% ou mais) são PCdoB, PTC, Rede, PSC, PMB e PSOL.
No total, haverá na eleição 14,8 mil candidatos brancos concorrendo e 13 mil pretos e pardos. Em termos absolutos, PSOL e PT são os que mais inscreveram negros na disputa, respectivamente 715 e 639.
Considerando os dez maiores partidos em termos de filiados no Brasil, o PT é o que apresenta maior percentual de candidaturas de negros (50% do total) nesta eleição. As legendas com proporção mais significaiva de pretos são PSTU (42% dos candidatos se audocleraram pretos), seguidos de PCdoB (23%), PSOL (23%) e PT (22%). Por outro lado, os quatro apresentam percentual de pardos menor que a média dos 35 partidos, que é de 35,5%.
Já os que apresentam menos pretos concorrendo são Novo (1,2%), PSL (4,7%), PSDB (6%) e PSD (6%).
Partido com menor diversidade racial, o Novo tem 85% de candidatos brancos. Disputando as eleições estaduais e nacional pela primeira vez, a legenda criou um processo diferente para escolher seus candidatos, com análise de currículos e entrevistas.
Todos os interessados em concorrer tiveram de pagar uma inscrição de R$ 600, usados para custear a seleção. O partido não ofereceu isenção para interessados de menor renda ou usou mecanismos para incentivar negros a participar.
O presidente do partido, Moisés Jardim, disse à BBC News Brasil que não vê problema na maioria branca dos candidatos. Questionado se não seria importante ter pretos e pardos eleitos para que participem da elaboração de políticas públicas que atendam a suas necessidades específicas, Jardim respondeu que os eleitos pelo Novo, independentemente de sua cor e renda, pensarão em todos os brasileiros.
“A questão da raça para a gente não é relevante, não é uma prioridade. Entendemos que temos de selecionar (para serem candidatos do Novo) as pessoas mais qualificadas e que pensam como nós pensamos”, disse à reportagem.
‘O negro está cansado de ver os outros falarem por ele’
A Frente Favela Brasil, que está tentando obter o registro de partido político no TSE, defende a necessidade de colocar mais negros nos espaços de poder para pensar políticas públicas que possam reduzir a exclusão desse grupo social.
Como não conseguiu se formalizar a tempo para essa eleição, a frente está lançando 28 candidatos, quase todos negros, em 12 Estados, por oito partidos diferentes (Rede, PSB, PT, PSOL, PCdoB, PRB, PPS e PDT). A grande maioria tenta os cargos de deputado federal ou estadual que eles, em geral, já têm alguma atuação política. Anderson Quack (PSOL-RJ), por exemplo, é um dos fundadores da CUFA (Central Única das Favelas). Derson Maia (PDT-DF) vem do movimento estudantil. E Andréa Reis (Rede-BA) milita no movimento negro feminista.
Uma das lideranças da Frente Favela Brasil, Anna Karla Pereira defende a importância de que o Congresso Nacional represente a pluralidade dos brasileiros, com mais negros, mulheres e indígenas. Hoje, apenas 10% dos parlamentares são mulheres e cerca de 20% são negros; não há um índio.
“O negro está cansado de ver os outros falarem por ele, pessoas que não vivem a realidade social do negro no país. Precisamos de políticas públicas específicas para essa população e não adianta dizer que outras pessoas vão fazer porque em toda a construção histórica do Brasil nunca foi feito”, diz.
A expectativa de Pereira é que a frente eleja ao menos metade dos candidatos, apesar de os dados de eleições passadas mostrarem que pretos e pardos têm menos de metade da chance de vencer a disputa quando comparados aos brancos. Em 2014, menos de 4% dos candidatos negros se elegeram. Já entre as candidaturas brancas, 9% foram vitoriosas.
Candidatos brancos costumam ter mais apoio dos partidos
O cientista social Osmar Teixeira Gaspar estudou em sua tese de doutorado pela USP os obstáculos enfrentados pelos negros para se eleger. Ele afirma que esses candidatos, em geral, recebem menos apoio dos partidos para suas campanhas, como recursos financeiros e pessoal para auxiliar na divulgação. Os candidatos que já têm mandato e tentam a reeleição costumam ser priorizados.
“Os candidatos negros acabam não tendo viabilidade para se eleger e funcionam mais como meio para conseguir votos para outros se elegerem”, nota ele, lembrando que no sistema brasileiro os votos em um candidato a deputado podem auxiliar outros do mesmo partido a vencer a eleição.
Além disso, destaca Gaspar, negros, por terem menor renda em média, têm mais dificuldade de parar de trabalhar para se dedicar a uma campanha. Por isso, ele cobra que os partidos adotem ações específicas para incentivar as candidaturas de pretos e pardos e defende também que sejam criadas cotas para candidatos negros.
O pesquisador observou também que os partidos menores costumam oferecer mais espaços para negros do que os maiores, independentemente do espectro político da legenda. Ou seja, nota Gaspar, as legendas com maior espaço na política são as que dão menos chance aos pretos e pardos de estarem nesses lugares.
A BBC Brasil questionou os partidos com maior percentual de candidaturas brancas sobre por que deram pouco espaço para candidatos negros.
No caso do PP, em que 64% dos candidatos registrados são brancos, o presidente nacional do movimento Afro Progressistas, Bruno Teté, disse que o partido tem ampliado gradativamente o espaço para pretos e pardos e deve eleger 3 a 4 deputados federais negros nesta eleição. A bancada na Câmara tem hoje 50 parlamentares, dos quais dois são negros.
“Após a eleição, você vai ver que o PP vai estar entre os três maiores partidos a eleger deputados negros, pois estamos colocando candidatos com chances reais de ganhar a eleição e não candidato só para concorrer como tem muito por aí”, afirmou.
Já o PSDB, no qual 67% dos candidatos são brancos, respondeu que “está aguardando o deferimento (aprovação pela Justiça Eleitoral dos pedidos de registro) para ter o número exato de candidaturas. Segundo o partido, “só após esse deferimento será possível analisar dados”.
O PSD, por sua vez, que tem 66% dos candidatos brancos, destacou em nota que “foi fundado em 2011 e vem buscando ampliar seus quadros progressivamente e de maneira plural, convidando a todos os brasileiros, de forma indistinta, a participar e se engajar na política e na vida político-partidária, com representantes das mais diversas origens, etnias e orientações, em todas as regiões do país”.
O partido disse ainda que “as candidaturas para essas eleições são frutos das deliberações realizadas em cada Estado”.
O MDB, que conta com 63% de brancos, reconheceu por meio de nota que a participação de negros entre seus candidatos “é um percentual ainda aquém do ideal”, mas destacou que “é crescente e assim será para os próximos anos”.
O partido afirmou também que “incentiva a participação, protagonismo e a candidatura de pessoas negras a todos os cargos. Inclusive por meio do MDB Afro, essa política de incentivo é permanente em nossa rotina partidária”.
Não responderam aos questionamentos da BBC News Brasil PSL e PCO – no caso do último, a reportagem não conseguiu contato por telefone e enviou a solicitação por email.
Matéria da BBC Brasil
Foto: Reprodução da Matéria