O dia começou agitado para o aplicativo de vídeos TikTok. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse na noite de segunda-feira, 6, que os Estados Unidos estão analisando a possibilidade de banir a rede social do país. Também nesta madrugada, o TikTok anunciou que vai parar de operar em Hong Kong em meio à possibilidade de censura do governo chinês na ilha.
A fala de Pompeo trouxe poucas ações concretas, mas pode acender um sinal de alerta. “Eu não quero ‘passar na frente’ do presidente [Donald Trump], mas é algo que estamos averiguando”, disse Pompeo em entrevista à Fox News, quando perguntado sobre banir o TikTok no país.
O TikTok pertence à companhia chinesa ByteDance, com sede em Pequim, capital da China. O app vem ganhando popularidade internacional nos últimos dois anos, chegando a mais de 2 bilhões de downloads e mais de 800 milhões de usuários ativos.
O anúncio desta segunda-feira de que o aplicativo vai parar as operações em Hong Kong é também um marco em meio às polêmicas sobre a nova lei de segurança imposta pelo governo chinês à ilha, aprovada em 29 de junho.
O TikTok já não está disponível na China continental, onde diversas redes sociais usadas no Ocidente, como Facebook, Twitter e aplictivos do Google também não operam. Em território chinês, a ByteDance tem um outro app, o Douyin. O Douyin foi lançado em 2016 na China e, em seu processo de internacionalização em 2017, a ByteDance optou por separá-lo do app usado no exterior, que viria ser o TikTok.
Após o anúncio de hoje, o TikTok deve encerrar o serviço em Hong Kong nos próximos dias. O app tem na ilha mais de 150.000 usuários. Já o Douyin segue disponível — embora o app só possa ser baixado na China ou por usuários de Hong Kong que se cadastrem como chineses, tem mais usuários em Hong Kong do que o TikTok, segundo informou uma fonte à Reuters.
Facebook, Google e Twitter, que operam só em Hong Kong, e não na China, também anunciaram que, após a nova lei de segurança, vão rever as operações na ilha e que vão “pausar” a cooperação com a polícia local acerca de informações de usuários.
A lei de segurança em Hong Kong levou também o governo dos EUA a retirar um status especial que tinham com o território, que não sofria as mesmas restrições comerciais que o governo americano impunha à China.
O TikTok na China
O TikTok diz historicamente querer se manter independente do governo chinês e afirma que não compartilha dados com o governo central em Pequim.
Em resposta aos comentários de Pompeo, um porta-voz da ByteDance disse que “o TikTok é liderado por um CEO americano, com centenas de empregados e líderes-chave em segurança, produto e políticas públicas aqui nos Estados Unidos”, segundo reportou a rede britânica BBC. “Nunca fornecemos dados para o governo chinês, nem o faríamos se fossemos solicitados”, disse.
O app é o primeiro chinês a conseguir bater de frente com as grandes redes sociais americanas. Outras empresas de tecnologia chinesas, como a Tencent (dona do WeChat), acabam restringindo suas operações ao gigantesco mercado chinês, de mais de 1 bilhão de usuários.
Em outro aceno aos críticos no Ocidente e em meio ao avanço entre os usuários fora da China, o TikTok anunciou em maio deste ano que seu novo presidente seria Kevin Mayer, diretor da divisão de streaming da Disney — um dos responsáveis por lançar o Disney+, serviço “rival” da Netflix.
Conflitos geopolíticos
As controvérsias do TikTok em Hong Kong surgem dias depois de a Índia banir a rede social e mais de 50 outros aplicativos de empresas chinesas.
O governo indiano alegou ameaça à segurança nacional, em meio a um conflito na fronteira entre os países que deixou pelo menos 20 soldados indianos mortos. Por parte dos usuários, o caso gerou pedidos de “boicote” à tecnologia chinesa nas redes sociais da Índia.
Para além de Pompeo, congressistas americanos vêm expressando nos últimos meses preocupação a respeito de privacidade no TikTok, que vem ganhando espaço entre os jovens nos Estados Unidos, e sobre potencial uso do app para espionagem por ordens do governo chinês — com quem os EUA estão em uma guerra comercial que já dura dois anos.
O mesmo tipo de acusação acontece com outras companhias chinesas, como a fabricante de celulares e eletrônicos Huawei. As empresas, por sua vez, afirmam que as críticas se baseiam puramente em conflitos geopolíticos entre os governos e no temor dos EUA de que haja uma maior concorrência entre empresas de tecnologia americanas e chinesas.
(Portal Exame)