Pulsa uma nação nordestina no coração do Planalto Central. Segundo dados da Codeplan em 2018, mais de 640 mil pessoas da região vivem no Distrito Federal. E para valorizar ainda mais essa presença tão marcante, já enraizada em todos os cantos da capital, foi sancionada na última quinta-feira (28), pelo governador Ibaneis Rocha, lei que inclui no Calendário Oficial de Eventos DF, o “Encontro Nordestino”. A data, a ser celebrada no mês de maio, tem como objetivo potencializar a essência da cultura do Nordeste por meio das mais diferentes manifestações artísticas. A autoria do projeto é da deputada distrital Jaqueline Silva.
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“Brasília fala muitas línguas, mas todas elas têm um forte sotaque nordestino, seja pelo legado dos pioneiros que aqui chegaram enfrentando enormes dificuldades, seja também pelas manifestações que logo se identificaram nas novas gerações”, afirma o secretário de Cultura e Economia Criativa (Secec), Bartolomeu Rodrigues, pernambucano de Serra Talhada.
Maracatu, frevo e boi-bumbá, no Museu Vivo da Memória Candanga (MVMC), ao som da Orquestra Marafreiboi, lives de repentistas e cantoria na Casa do Cantador, Caravana de São João pelas regiões administrativas do DF. Eis algumas das várias ações do GDF realizadas ao longo do ano de 2020, mesmo com a pandemia, para exaltar a cultura nordestina.
Pelo Edital Aldir Blanc Gran Circular, na linha Culturas Populares, que abrange artistas que se dedicam à cultura nordestina, foram contemplados 70 agentes. O edital, Premiação Brasília Junina 2019, lançado em maio pela Secec, beneficiou 40 grupos de quadrilhas juninas com R$ R$ 12.525,00 cada. Desenvolvida no meio do ano, graças termo de fomento, a Caravana de São João empregou mais de 60 trios de forró, gerando um total de 223 postos de trabalho. São a alegria e o calor da alma nordestina, espalhados pelos quatro quantos do DF.
Vamos tornar conhecida essa lei e fazer valer a partir desse ano numa grande festa, com repente, sanfona e vaquejada Zé do Cerrado, radialista, poeta e cordelista
Para 2021, os projetos da Secec envolvendo tema Nordeste são: a criação da Medalha, “Boi de Seu Teodoro” – condecoração que reverencia o artista maranhense, Teodoro Freire (1920 – 2012), mestre de bumba-meu-boi que se radicou no DF, em 1962, fundador do Centro de Tradições Populares em Sobradinho -, e o Decreto sobre Política de apoio aos festejos juninos.
Palácio da Poesia
Paraibano de Piancó há mais de 22 anos vivendo no DF, o radialista, poeta e cordelista, Manoel de Sousa Rodrigues, 56 anos, o Zé do Cerrado, é um dos mais atuantes ativistas culturais do DF. Sua bandeira? O Nordeste, claro. “Tudo que vier somar e fortalecer a colônia nordestina no DF será bem-vindo, vamos tornar conhecida essa lei e fazer valer a partir desse ano numa grande festa, com repente, sanfona e vaquejada”, diz o artista, há dois anos à frente da Casa do Cantador, um dos points dos nordestinos, localizado em Ceilândia. “É o nosso Palácio da Poesia, um marco no DF, onde acontece muito festival, cantoria, seminários ligados ao Nordeste”, destaca o locutor.
A primeira migração em massa de nordestinos a chegar ao cerrado, foi nos primórdios do surgimento de Brasília, em meados dos anos 1950. Até a inauguração da capital, eles somavam 58 mil, hoje representam quase 23% da população do DF. Só de baianos, a maior colônia dos nove estados do Nordeste radicada aqui, são 142.743. Os piauienses, representados por mais de 137 mil moradores, vem em segundo. São milhares de sotaques da região que aqui se espalharam, trazendo na bagagem uma riqueza cultural singular.
Idealizador e coordenador do “Instituto Orgulho de Ser Nordestino”, há 15 anos promovendo a cultura da região no DF, o jornalista, poeta e compositor, Affonso Gomes, também pesquisador do folclore nordestino e do forró, foi um dos nordestinos radicados no cerrado que lutou para que essa homenagem virasse decreto. “Brigamos muito por um dia especial para homenagear a cultura nordestina. Por isso, acho muito justo a inserção dessa data no calendário oficial do GDF”, agradece. “A mão de obra mais forte que JK usou na construção de Brasília, a meu ver, foi a dos trabalhadores nordestinos. Para aonde eles vão, carregam consigo os costumes e a pujança da forte cultura”, contextualiza.
(Agência Brasília)
Foto: Marina Gadelha – Secec/DF