Em meio à pandemia do coronavírus, mais uma vez Bolsonaro teve que gerenciar uma crise política em seu governo. Desta vez, o envolvido era um aliado de peso, o ex-juiz federal e até então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que nesta sexta-feira (24), resolveu pedir demissão do cargo alegando que não aceitava interferência em sua gestão no Ministério.
Desde ontem, os rumores de uma possível saída de Sérgio Moro motivada pela troca do comando na Polícia Federal se tornou a pauta de destaque nas redes sociais e nos sites e programas jornalísticos dos veículos de comunicação. E hoje pela manhã, o que era ti ti ti virou real. Moro convocou a imprensa e anunciou sua saída do governo Bolsonaro. Depois de algumas horas, o presidente divulgou por meio das redes sociais que faria um pronunciamento sobre o episódio.
Por volta das 17h, Jair Bolsonaro falou aos jornalistas durante 46 minutos, no Palácio do Planalto, acompanhado da maioria de seus ministros e alguns deputados aliados. Bolsonaro fez um breve relato de quando se encontrou com Moro pela primeira vez até o momento que o convidou para ser seu ministro da Justiça e Segurança Pública. O presidente revelou que Paulo Guedes foi testemunha dessa reunião com Sérgio Moro em sua casa no Rio de Janeiro.
Bolsonaro confirmou que de fato deu carta branca à Sérgio Moro, mas que deixou avisado que ele como chefe teria o poder de vetar. “Ele sabia disso, bem como qualquer outro ministro do meu governo”, disse o presidente. E negou que tivesse interesse em intervir em qualquer operação da Polícia Federal. “Não são verdadeiras as insinuações de que desejaria saber sobre as investigações em andamento. Nos quase 16 meses em que esteve à frente do Ministério da Justiça, o senhor Sergio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas investigações que estavam sendo realizadas”, acrescentou.
O presidente lembrou que ele tem a prerrogativa, estabelecida em lei, de nomear e exonerar, não só o diretor-geral da PF, como qualquer outra pessoa que exerça cargo público vinculado ao Executivo. “Falava-se em interferência minha na Polícia Federal. Ora bolas, se eu posso trocar o ministro, por que eu não posso, de acordo com a lei, trocar o diretor da Polícia Federal? Eu não tenho que pedir autorização para ninguém para trocar o diretor ou qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do Poder Executivo”, declarou.
Jair Bolsonaro disse, em seu pronunciamento, que, como presidente, tem o direito de se dirigir diretamente a outros funcionários do governo federal, inclusive subordinados de seus ministros. “O dia que eu tiver que me submeter a qualquer funcionário meu, eu deixarei de ser presidente da República. Falei para que ele que quero um delegado […] que eu possa interagir com ele. Por que não? Eu interajo com os órgãos de inteligência das Forças Armadas, eu interajo com a Abin [Agência Brasileira de inteligência], interajo com qualquer um do governo. Sempre procuro o ministro, mas numa necessidade, eu falo diretamente com o primeiro escalão daquele ministro”, afirmou.
Vaga no STF
Bolsonaro disse ainda que Sergio Moro condicionou a demissão de Maurício Valeixo a uma indicação para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). “Já que ele falou em algumas particularidades, mais de uma vez o senhor Sergio Moro disse pra mim: você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal. Me desculpe, mas não é por aí. Reconheço as suas qualidades, em chegando lá, se um dia chegar, pode fazer um bom trabalho, mas eu não troco. Outra coisa, é desmoralizante um presidente ouvir isso”.
Com informações da Agência Brasil