Em O fuzzy e o techie – Por que as ciências humanas vão dominar o mundo digital, livro de estreia de Scott Hartley, o debate sobre o valor das ciências humanas em um mundo dominado pela ciência e pela tecnologia é reformulado sob um ponto de vista contrário à clássica oposição entre os profissionais dos dois campos — aos quais o autor chama, retomando uma tradição universitária norte-americana, fuzzies(“humanistas”) e techies (“tecnicistas”).
Por muito tempo, acreditou-se que, à medida que a sociedade avança em direção a um mundo cada vez mais tecnológico, haveria uma desvalorização da formação em ciências humanas, mas Scott Hartley revela exatamente o contrário: os fuzzies estão tomando um papel fundamental no desenvolvimento das ideias de sucesso mais criativas do mundo dos negócios e sua colaboração com os techies é a chave para a dinâmica profissional do futuro.
Hartley argumenta que “à medida que desenvolvemos nossa tecnologia para torná-la cada vez mais acessível e democrática e à medida que se ela se torna cada vez mais onipresente, as questões atemporais das ciências humanas e seus insights sobre as necessidades e os desejos humanos se tornam requisitos essenciais no desenvolvimento de nosso instrumental tecnológico”.
Para o professor de Tendências Tecnológicas em Negócios da FAE Business School e do Observatório do Sistema Fiep, Sidarta Ruthes, a trajetória de Scott Hartley está ligada à inovação e à geração de novos negócios baseados na nova economia e em modelos exponenciais e colaborativos. “Ele trabalhou por muitos anos no Vale do Silício apoiando empresas do setor de tecnologia de informação e comunicação (TIC) e na criação e desenvolvimento de startups. Essa experiência contribuiu para consolidar uma visão de que a colaboração é uma alavanca importante no processo de inovação disruptiva, com a integração de humanistas e tecnicistas na geração de ideias e na criação de novos negócios. Em outras palavras, as inovações de alto impacto estão cada vez mais sendo desenvolvidas num modelo convergente de conhecimentos, com base em diversas áreas para a geração de riquezas”, explica.
Negócios do futuro
O professor Sidarta reforça que, para se ter sucesso no processo de inovação, é cada vez mais importante obter múltiplos olhares, capazes de visualizar oportunidades que pessoas sozinhas ou reunidas em grupos homogêneos de conhecimento (mesma área) terão dificuldades de enxergar. “Não acredito que o futuro vai remeter ao ‘domínio’ de uma ciência (humanas ou tecnológicas) sobre as outras. O futuro requer cada vez mais interdisciplinaridade para a criação de soluções para os problemas da sociedade. Estamos notando, nos últimos anos, que as inovações de alto impacto são baseadas em dois fenômenos: (i) convergência tecnológica (várias áreas do conhecimento sendo trabalhadas em conjunto); e (ii) convergência setorial (vários setores trabalhando em conjunto para criar novos negócios)”, relata.
Exemplo disso são os wearables (tecnologias vestíveis), ou seja, roupas inteligentes, embarcadas com sensores e sistemas de comunicação, capazes de verificar sinais vitais, monitorar desempenho nos esportes ou melhorar a qualidade de vida das pessoas. Os wearables envolvem diferentes áreas do conhecimento como software, hardware, engenharia de materiais, design, moda, medicina, fisiologia, gestão, sociologia etc. Já numa visão setorial, os wearables envolvem setores entre os quais têxtil e confecção, TIC (tecnologia da informação e comunicação), saúde, logística, etc. Outros exemplos mais concretos são as plataformas de transporte, streaming e hospedagem, as quais apresentam soluções convergentes, envolvendo múltiplos conhecimentos, de diferentes setores e tecnologias, e criando modelos de negócios disruptivos.
Na prática
Para Thammy Marcato, decoder na KPMG − profissional que é um exemplo perfeito da união das ciências humanas com a tecnologia −, “essa posição nasceu da inspiração daquilo que entendemos sobre o conceito de conselheiro do futuro, ou seja, um decifrador de problemas/oportunidades para geração de soluções e valor. As expertises de um decoder devem atender à confluência de três pilares: business, design e tecnologia. O entendimento disso nos fez perceber que a união de ciências humanas e tecnologia é essencial para o profissional do futuro, independentemente da sua área de atuação”, enfatiza.
A profissional acrescenta que a tecnologia é um meio de fazer as coisas na prática, e as ciências humanas são o caminho para chegar à ação. “Ou seja, são conhecimentos complementares, capazes de facilitar a vida de especialistas de diversas áreas que buscam soluções para seus negócios e companhias, por isso a disciplina de Tendências Tecnológicas em Negócios, disponível nos cursos da FAE Business School, se faz tão necessária para o mercado atual”, finaliza Thammy.
Matéria do Portal G1
Foto: Google Imagens