O suicídio é, hoje, a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos de idade no Brasil. No Distrito Federal, somente nos primeiros sete meses deste ano, dos 78 óbitos por suicídio, 30 ocorreram nesta faixa etária. De 2012 a 2016, ocorreram, em média, 11 mil suicídios na população geral, sendo 3.043 entre adolescentes e jovens.
A jovem A.L.B.C., de 14 anos, quase entrou para essa estatística. Tentou com remédios. Depois, quis se jogar em frente a um carro em movimento. A mãe preocupou-se e a levou a uma unidade básica de saúde, que encaminhou a garota ao Adolescentro, um dos serviços oferecidos pela Secretaria de Saúde que atende a crianças e adolescentes com problemas ligados à saúde mental.
“Aqui, eu consegui me abrir. Antes desse atendimento, eu era uma menina isolada, que voltava da escola e se trancava no quarto, chorava bastante e me cortava. Agora, sou mais tranquila. Já consigo me abrir com minha mãe e até ajudar outras pessoas que estão passando por dificuldades”, conta ela.
Para a mesma unidade foi encaminhada a adolescente G.R.O., de 15 anos, após crises de ansiedade. “Sentia muita raiva e angústia. Saí pela rua, sem rumo. Meu pai e meu irmão conseguiram me pegar e fomos buscar ajuda. Eu me sentia muito frágil. Meus pais trabalhavam o dia inteiro e eu não tinha atenção deles. Quando perceberam como eu estava, me levaram ao médico e fui diagnosticada com depressão e transtorno de ansiedade. Nunca tentei me matar, mas me mutilava”, relata a menina.
PERIGO – Segundo o Ministério da Saúde, a depressão é um dos principais determinantes para a tentativa de suicídio e para a ação efetiva entre os jovens. Situações que envolvem violência física, homofobia, consumo abusivo de álcool e uso de drogas contribuem para aumentar a vulnerabilidade nesta faixa etária.
Nos adolescentes, dentre os principais determinantes para o suicídio também podem ser relacionados a indiferença/omissão dos pais sobre suas ações, violência familiar, cyberbullying e bull
Por isso, a atuação de profissionais é ainda mais importante nesta faixa de idade. E uma das abordagens de sucesso é a formação de grupos.
“Os grupos são espaços de psicoterapia. Neles, são trabalhados os sofrimentos de maneira que o adolescente aprenda a lidar com seus sentimentos e a agir de forma emocionalmente madura. A força do grupo para os adolescentes é muito estruturante, pois, nessa idade, normalmente eles buscam mais contato com seus pares”, explica a psicóloga do Adolescentro, Adriana D’ajuz.
A profissional esclarece: “No grupo, eles aprendem a ouvir, a respeitar a dor do outro, a ser confirmados na sua dor e a se expressar de forma madura. Muitas vezes, a terapia oferece o maior suporte à família e não o remédio”.
PREVENÇÃO PRECOCE – Quanto mais cedo a família tratar dessas questões, menores serão as chances de uma criança chegar à fase adulta pensando em suicídio.
“Não é comum a tentativa de suicídio na infância, mas isso pode ocorrer. Atendemos, com mais frequência, casos de depressão infantil, sem chegar a ideação ou tentativa de suicídio. Trata-se, portanto, de uma prevenção secundária”, explica a médica psiquiatra e gerente do Centro de Orientação Médica e Psicopedagógica (Compp), Lilian Lordelo, sobre o trabalho desenvolvido no serviço, que atende crianças de até 12 anos de idade.
Historicamente, são raros os casos de suicídio na faixa etária até os 14 anos. Desde 2008, o Distrito Federal vem registrando entre um e três casos. No primeiro semestre deste ano, foi registrada uma morte por suicídio na região.
Uma das frentes desenvolvidas pelo Compp é o matriciamento da Atenção Primária para que as unidades básicas de saúde façam, ativamente, a promoção da saúde e a prevenção primária dos adoecimentos na infância. “Entendemos que a prevenção de casos na vida adulta começa com intervenções feitas na infância”, destaca.
Além do Adolescentro e do Compp, a Secretaria de Saúde ainda conta com o Centro de Atenção Psicossocial Infantil, que atende crianças e adolescentes até 18 anos, com os familiares e responsáveis, em quadro de crise e/ou sofrimento psíquico que cause prejuízo aos laços sociais e familiares.
PROGRAMAÇÃO – As unidades de atendimento a estes jovens prepararam atividades para a conscientização e o alerta no Setembro Amarelo. No Adolescentro, mensagens estão sendo distribuídas aos adolescentes e seus familiares. Além disso, em outubro, como extensão da agenda, haverá um seminário com show de talentos e apresentação dos pacientes.
(Agência Saúde)