“A dor da alma doía, literalmente, no meu peito. Eu só não queria mais, só buscava o fim da dor. Não conseguia pensar em ninguém, somente na dor”. O relato é de alguém que já não sente mais tudo aquilo que a fez pensar em tirar a própria vida por duas vezes. A primeira foi evitada pelo esposo. Na segunda tentativa, foi salva pelo amor ao filho, hoje com 13 anos.
A história da vendedora Michelle Cavalcanti é semelhante a muitas outras espalhadas por todo o Brasil. Porém, grande parte delas não tem o mesmo final feliz. Mas poderiam ter, por um detalhe: se as pessoas mais próximas conseguissem identificar os sinais que quem está em sofrimento vai apresentando ao longo do caminho.
É sobre a identificação desses sinais e ao pedido de ajuda que a Secretaria de Saúde faz um alerta, nesta terça-feira (10), Dia Mundial da Prevenção do Suicídio.
“Grande parte das pessoas em risco fala sobre o assunto, fala em desejar morrer, em sumir ou em querer dormir e não acordar mais. Outros falam diretamente sobre suicídio. Uma mudança de comportamento em relação ao padrão anterior, como desinteresse pelas atividades diárias, abandono de compromissos, aumento do uso de substâncias, insônia, podem ser sinais de alerta de que algo não está bem e a pessoa precisa ser ouvida”, observa a referência técnica distrital em Psiquiatria da Secretaria de Saúde, Fernanda Benquerer.
Foi assim com Michelle, mas ninguém percebeu a gravidade da mudança de comportamento. “Eu não comia, não tomava banho, nem escovava os dentes. Colocava um edredom na janela do quarto e ficava lá por vários dias. Meu ex-marido e minha irmã sabiam que eu me cortava. Apesar disso, não entendiam que eu precisava de ajuda profissional”, lamenta.
Hoje, ela conta sua história na tentativa de alertar as pessoas para a importância de estar atento e perceber quando um ente querido precisa de ajuda.
COMO AJUDAR – Ao perceber uma alteração de comportamento, é importante perguntar, abertamente, como a pessoa está se sentindo, se está acontecendo alguma coisa, se ela quer conversar sobre o que a incomoda, sem julgamentos. “Perguntar diretamente se a pessoa pensa em morte ou em suicídio não dá ideia a ela. Então é importante vencer o tabu e abrir o caminho para a comunicação”, complementa Fernanda Benquerer.
O familiar ou amigo pode se oferecer para acompanhar a pessoa às consultas e deve garantir que ela não fique sozinha nem tenha acesso a nada que possa usar para se machucar. Segundo a psiquiatra, também é importante incentivar a adesão ao tratamento proposto.
Há, ainda, um grupo de voluntários que atendem na central telefônica 188, do Centro de Valorização da Vida (CVV). Ele realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente a todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail e chat 24 horas, todos os dias.
“É importante procurar ajuda. Não espere por ninguém. Existe socorro. Não precisa acabar aqui. O sol vai nascer amanhã e tudo pode ser diferente, como está sendo para mim”, incentiva Michelle.
A vendedora esclarece ainda: “Sou acompanhada por profissionais e talvez precise ser assim para sempre. Mas, hoje, tenho vontade de viver, e isso já é bom demais”.
Fonte: Agência Saúde DF