Item fundamental na produção de qualquer folião no Carnaval, o glitter é apontado como um dos vilões da natureza. Isso porque o micro plástico de cinco milímetros tem despontado como a maior ameaça ao ambiente marinho.
Não precisa ir muito longe para ver cenas de animais mortos após ingerirem itens plásticos, pensando ser alimentos. Uma busca rápida na internet traz um número grande de fotos e vídeos de tartarugas, pinguins e aves que não resistiram às tampinhas de garrafas, canudos e outros elementos que acabaram por cair nos oceanos. No entanto, a preocupação de especialistas, hoje, vai muito além desses produtos maiores, chamados de macro plásticos. O micro plástico, diz o professor de Zoologia do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Ignacio Benites Moreno, tem chamado a atenção há pelo menos 10 anos.
E dentro da categoria dos micro plásticos, acreditem, enquadram-se cremes dentais com esferas abrasivas, produtos de limpeza, esfoliantes e o brilhoso glitter.
— O plástico é problemático para os animais de grande porte porque ele se confunde com os alimentos, mas o micro plástico é pior, pois ele atinge toda a cadeia alimentar. Plâncton, mãe d’água, coral ou qualquer animal filtrador vai colocar a substância para dentro de si — explica Moreno.
A lógica é simples: no banho ou na hora de escovar os dentes, por exemplo, essas pequenas esferas escorrem pelo ralo e acabam, invariavelmente, nos oceanos, e servem de “alimento” para os animais.
Mas isso não quer dizer que a maior festa brasileira deva perder o brilho. Preocupadas com o destino final do glitter, as biólogas Elisa Ilha e Júlia Beduschi mais a estudante Ingrid Sant’Anna desenvolveram uma versão do pó brilhoso amiga do meio ambiente. Usando pó mineral e componentes alimentícios, elas criaram um glitter biodegradável.
— Sempre fomos muito de curtir o Carnaval e usar muita purpurina. Mas quando saíram estudos sobre o impacto do pó nos oceanos não nos sentimos mais à vontade para utilizá-lo. Então, fomos testando receitas e quando chegamos a um resultado bom, resolvemos vender — diz Elisa, uma das criadoras da Viva Purpurina Biodegradável.
Vendido a R$ 10 em uma embalagem de 18ml – o normal custa menos de R$ 5 por 3,5g – , o glitter biodegradável tem feito tanto sucesso com o público que as criadoras foram obrigadas a negar algumas encomendas carnavalescas:
— Isso é muito legal. Foi uma surpresa muito grande ver a quantidade de gente consciente — comemora a bióloga.
Claro que o glitter é só um pedacinho de um iceberg muito maior. Moreno lembra que ainda há outras fontes de micro plástico mundo afora, além dos plásticos maiores que, com a ação de ambientes externos, se reduzem a partículas minúsculas.
— O copinho plástico vai parar no estômago de uma tartaruga ou ave. Se não for isso, vai se partindo em pequenos pedaços até virar micro plástico. O pior é o plástico efêmero: o prato, copo, garfo descartável. Não adianta mais reciclar, tem que reduzir o plástico. Ou a gente acaba com ele ou ele acaba com a gente — sentencia.
Para se ter uma ideia do problema, basta olhar os números: 90% das tartarugas que chegam ao Ceclimar para reabilitação têm plástico no corpo. Já as aves somam 97% dos casos, afirma o professor.
Fora os problemas à vida marinha, os especialistas ainda não conseguiram dimensionar os danos que esses elementos podem causar aos humanos.
— Cada vez mais, as espécies ameaçadas estão morrendo pelo macro plástico e são fortemente impactadas pelo micro plástico. Ele está entrando nos peixes que a gente come — ilustra Moreno.
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Matéria do Diário Catarinense
Foto: Google Imagens
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