Árvores com troncos retorcidos, de formato tortuoso e folhas grossas, espalhadas em meio a uma vegetação rasteira, misturando-se com campos, veredas e diferentes tipos de matas. Esse é o Cerrado, uma ampla área de 200 milhões de hectares, considerado o segundo bioma mais ameaçado do Brasil, tendo perdido 50% de sua área original, de acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Berço de algumas das principais bacias hidrográficas do Brasil – como a do Rio Paraná e a do Rio São Francisco, o Cerrado, que tem seu dia comemorado nesta quarta-feira (11), é a região de savana com a biodiversidade mais rica do planeta. O bioma reúne uma variedade de fitofisionomias (Mata de Galeria, Veredas, Cerrado Rupestre, Campos, entre outras) e um grande número de espécies de plantas e animais: estima-se que vivam ali, de acordo com o MMA, 12 mil espécies de vegetais, 837 de aves e 199 de mamíferos.
Apesar dessa importância, o Cerrado possui uma pequena porcentagem de suas áreas sob proteção integral. Segundo o MMA, o bioma apresenta apenas 8,21% de seu território legalmente protegido por unidades de conservação. Desse total, 2,85% são de proteção integral e 5,36% de uso sustentável, incluindo as chamadas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), que representam 0,07%. Entre elas está a Reserva Natural Serra do Tombador, uma área de 8.730 hectares mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Ameaça ao Cerrado
Segundo o consultor voluntário da Fundação Grupo Boticário, Reuber Albuquerque Brandão, e estudioso do Cerrado, as RPPNs desempenham um papel importante para a conservação. “Elas contribuem para o aumento das áreas protegidas em locais estratégicos, como em ecossistemas ameaçados e zonas de amortecimento de outras UCs, colaborando com a formação de corredores ecológicos e contribuindo para os esforços públicos de conservação”.
Sobre a falta de unidades de conservação, públicas ou privadas, Reuber explica que ela é agravada pelo desmatamento no bioma: os índices de perda de áreas naturais avançam cerca de 1% a cada ano. “Entre 2002 e 2008, perdemos 14,2 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa desse bioma e esse número é alarmante. Se não tomarmos providências urgentes para reduzir esse ritmo e proteger as áreas nativas remanescentes, pode ser que dentro de 50 anos o Cerrado esteja praticamente extinto”, alerta o pesquisador.
Para Brandão, a implementação de mais unidades de conservação (UCs) é, atualmente, a melhor ferramenta para garantir a qualidade e a perpetuidade da biodiversidade no bioma. “Com as expansões urbana e agrícola, as unidades de conservação de proteção integral se tornaram a melhor estratégia para proteção da natureza”, explica. “Essas áreas protegidas têm como principal finalidade a proteção da natureza presente dentro de seus limites e são importantes para a conservação dos biomas e da vida no planeta como um todo, pois prestam importantes serviços ambientais, como a manutenção do microclima, o fornecimento de água e a captura de carbono”, completa. A última implantação de UC federal de proteção integral no Cerrado foi em 2005, quando foi criado o Parque Nacional da Chapada das Mesas, no Maranhão.
Savana brasileira
O Cerrado é a segunda maior região biogeográfica do Brasil e ocupa cerca de 25% do território do país, englobando 12 estados. O bioma está localizado na área central brasileira, incluindo Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, a região sul de Mato Grosso, o oeste e norte de Minas Gerais, oeste da Bahia e o Distrito Federal.
O bioma possui vegetação com a presença de árvores pequenas, arbustos, lembrando a vegetação da savana africana. Entre as espécies vegetais que caracterizam o Cerrado estão o barbatimão, o pau-santo, a gabiroba, o pequizeiro, a sucupira, o pau-terra, a catuaba, o indaiá e o pepalantus. Entre as espécies da fauna, destacam-se os gaviões, o tamanduá-bandeira, o cachorro-vinagre, o lobo-guará, várias espécies de tatu, além da onça-parda e da onça-pintada.