Quando o neurologista Choi Jung Hun tratava pacientes na Coreia do Norte, ele tinha de providenciar o próprio equipamento de higiene médica. “Pediam-me que comprasse máscaras cirúrgicas e luvas para mim mesmo”, relata em entrevista concedida por Skype, ao se recordar de como não havia nenhum equipamento de proteção para os médicos.
Embora não haja como verificar a veracidade do seu relato, ele é semelhante ao de outros vindos do país asiático, o mais isolado do mundo.
Ô agora desertor é pesquisador convidado da Universidade da Coreia em Sejong. Um homem esguio e de rosto sério, Choi considera mera propaganda que a Coreia do Norte tenha sido poupada da pandemia de coronavírus – conforme relatado pela mídia estatal. Principalmente por ter uma fronteira de 1.400 quilômetros com a China, principal parceiro comercial da Coreia do Norte, ter ficado aberta até o fim de janeiro.
Choi afirma que a covid-19 provavelmente entrou no país naquela época. “Claro que pessoas morreram de coronavírus na Coreia do Norte”, diz enfaticamente. Não é nada incomum morrer em decorrência de um vírus na Coreia do Norte, acrescenta, mesmo de alguns que não matam em outras partes do mundo. “A Coreia do Norte é um museu de vírus.”
Ele diz não ficar surpreso por o regime afirmar persistentemente que conseguiu conter a covid-19. “O sistema de saúde é muito precário. Eles não querem mostrar isso para o mundo.” E há uma razão a mais: a mensagem que isso enviaria à população.
No entanto, em 25 de agosto, o comitê central do Partido dos Trabalhadores da Coreia se reuniu pela terceira vez em poucas semanas, sob a liderança de Kim Jong-un. Com uma franqueza pouco comum, ele lamentou “falhas” e “deficiências” na luta contra o vírus.
“Se ficar claro que o sistema de saúde não pode cuidar da população, as pessoas perderão a confiança no governo. Isso significaria que o sistema não é infalível”, explica Choi.
A mídia estatal norte-coreana tem falado muito sobre a pandemia. Há atualizações diárias que sugerem que o regime está fazendo todo o possível para proteger a população: “Medidas contra a epidemia são fortalecidas ainda mais”, “Campanha nacional contra a epidemia é intensificada”, “Ação rápida para enfrentar a epidemia” são algumas manchetes dos últimos dias.
(Matéria adaptada da Deustche-Welle)