• 22 de novembro de 2024

ELEIÇÕES NA COLÔMBIA | Ex-guerrilheiro e ‘Trump colombiano’ vão disputar o 2º turno no dia 19 de junho

Os colombianos vão decidir quem será o próximo presidente do país no segundo turno das eleições, em 19 de junho. A disputa será entre o candidato de esquerda ou centro-esquerda Gustavo Petro — ex-guerrilheiro, economista e senador, que disputa a Presidência pela terceira vez — e o candidato de direita Rodolfo Hernández — engenheiro, ex-prefeito de Bucaramanga, muitas vezes classificado como “populista”, “escrachado” e “outsider da política”.

As bandeiras de Petro, de 62 anos, são justiça social, reforma agrária — “democratizar a terra” —, cobrança de impostos às grandes fortunas para “gerar bem-estar e inclusão social” e uma “economia produtiva e com estabilidade econômica”. Petro também defende o fim do serviço militar obrigatório e a ampliação de áreas de Direitos Humanos nas Forças Armadas e policiais.

Petro, da coalizão Pacto Histórico, tem insistido que não pretende confiscar ou nacionalizar empresas e criticou os governos da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua, mas ainda assim não conseguiu evitar a rejeição do empresariado e dos setores conservadores do país. Sua defesa de renegociação dos acordos de livre comércio em vigor, que incluem os Estados Unidos, desagrada o empresariado.

A principal bandeira de Hernández, de 77 anos, é o combate à corrupção — quase único assunto sobre o qual insistiu na sua estratégia de comunicação através das redes sociais, apesar de ele ter problemas com a Justiça por denúncias de irregularidades quando foi prefeito de Bucaramanga. Hernández, da Liga de Governantes Anticorrupção, defende o uso medicinal da maconha, a criação de uma renda mínima para os mais pobres e aposentadoria também para aqueles que não contribuíram para a previdência, mas não deu detalhes sobre de onde viriam os recursos.

Logo após os resultados das urnas, analistas disseram, na noite de domingo (29/5), ao canal de TV online do jornal El Tiempo, de Bogotá, que, em “termos matemáticos”, não se poderia descartar que Hernández possa chegar a vencer a eleição depois que o candidato da direita Federico ‘Fico’ Gutiérrez, da coalizão Equipo por Colômbia, que tem apoio dos partidos tradicionais, disse que o apoiaria.

“Pela matemática, se os votos de Hernández e de Gutiérrez forem somados, Hernández, o outsider, venceria”, disse um deles. Petro recebeu 8,5 milhões de votos (40,32%), Hernández contou com 5,9 milhões (28,15%) e Gutiérrez com pouco mais de 5 milhões de votos (23,91%).

Mas, nesta matemática, ainda pode pesar o índice de abstenção e, portanto, não está claro o que aconteceria no segundo turno.

A eleição ocorre em meio a uma profunda polarização devido ao descontentamento social derivado da desigualdade e da pobreza, além de demandas para reduzir a insegurança nas cidades e a violência nas áreas rurais onde operam grupos armados ilegais dedicados ao narcotráfico.

Mais de 85% dos colombianos acham que o país está no caminho errado. Desde a década de 1990, o momento mais agudo do conflito armado, números tão altos de pessimismo não foram relatados.

‘Cansaço’

A votação surpreendente em Hernández revela, segundo analistas, o “cansaço” dos colombianos com os políticos e o sistema atual. A eleição deixou de fora da corrida eleitoral, pela primeira vez em décadas, os partidos tradicionais, o que também confirmaria este “cansaço” e a busca dos colombianos por “mudanças”, num país com longa trajetória de governos de direita e conservadores.

“Vencemos e ampliamos nossa votação em relação às eleições anteriores. E nossa disputa é pelas mudanças”, disse Petro, famoso por sua oratória em tom de conversa, no fim da noite de domingo. Ele disse, porém, em claros recados para Hernández e seus eleitores, que existem “mudanças que podem ser suicídio” e que “a corrupção não se combate com frases de Tik-Tok”. Foi aplaudido por seus seguidores ‘petristas’ (como seus apoiadores são chamados).

Na sua fala, Petro citou o escritor colombiano Gabriel García Márquez. Foi da obra ‘Cem Anos de Solidão’ que Petro tirou seu pseudônimo nos tempos de jovem guerrilheiro — Aureliano, em referência ao coronel Aureliano Buendía, considerado, por estudiosos, o principal personagem do livro.

(BBC News Brasil)

Foto: Reprodução/Getty Images

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