Apesar de a calma ter voltado ao mercado financeiro depois da tormenta da última segunda-feira, desatada pela desvalorização do yuan, as consequências da queda da cotação da moeda chinesa seguem afetando a economia mundial – e países da América Latina.
A China desvalorizou sua moeda ao mais baixo patamar dos últimos 11 anos, poucos dias depois de a Casa Branca anunciar que, até setembro, imporá tarifa de 10% de tarifas sobre US$ 300 bilhões em produtos exportados pelos chineses.
Washington, de imediato, voltou a chamar a China de “manipuladora de moedas”. O gigante asiático, por sua vez, também reiterou que essas acusações podem provocar um caos nos mercados financeiros.
Com a tensão gerada pela disputa entre as duasa potências, as bolsas registraram a maior queda do ano e o dólar disparou frente às moedas de países emergentes – o que tem ocorrido toda vez que os presidentes Donald Trump e Xi Jinping sacam suas armas.
Por que a queda do yuan fez disparar o dólar?
Diante da incerteza gerada pela escalada da guerra comercial e a desvalorização do yuan, investidores buscaram refúgio em moedas fortes como o dólar americano, o iene japonês, ou o franco suíço, enquanto outros compraram ouro para se proteger do volatilidade.
“A China deprecia sua moeda e gera um movimento global de aversão a risco”, disse à BBC Mundo, Frederico Furiase, economista diretor da consultora Eco Go e professor da universidade argentina Torcuato Di Tella.
Basicamente, um yuan baixo gera insegurança e faz com que investidores fujam de mercados instáveis ou perigosos, buscando proteção dolarizando seus capitais.
“Isso é consistente com o declínio nas taxas de juros dos títulos soberanos, com a queda nos índices do mercado de ações, o aumento da volatilidade financeira e a desvalorização cambial dos países emergentes”, diz Furiase, citando o que está acontecendo na América Latina.
“Estamos diante de uma onda de depreciação das moedas em relação ao dólar”, explica o economista, dizendo que o contexto é de aumento do risco de recessão global e de expectativa de que o Federal Reserve (o banco central dos EUA) reduzirá o custo do crédito baixando taxas de juros.
As moedas na América Latina, onde já havia uma tendência de depreciação nas últimas semanas, perderam valor nos últimos dias.
“Em comparação com o dólar, o peso chileno perdeu 5,5%, o real 4,4%, o peso mexicano 2,2% e o sol peruano 3% desde o começo de julho”, observa Diego Mora, consultor de investimentos da XTB.
O dólar ficou fortalecido porque, segundo ele, “os grandes fundos de investimento institucionais que têm depósitos em yuanes veem que o rendimento será em taxas menores e levam os capitais para outro país com taxa maior ou uma moeda que vale mais”.
“Quanto mais exposto o país estiver ao comércio internacional, maior será o risco de sua moeda”, diz Mora, acrescentando que o Chile tem sido um dos países onde o dólar tem se fortalecido mais recentemente.
O que acontece com as exportações
Países desvalorizam suas próprias moedas para que seus produtos sejam mais competitivos, ou seja, para que os produtos que exportam sejam mais baratos.
Isso significa que, com a queda da cotação do yuan em relação ao dólar, os produtos chineses entram nos mercados latino-americanos a um preço mais baixo. Mas, em contrapartida, os produtos da região ficam mais caros no mercado chinês, especialmente os minérios.
“Isso desestimula a demanda e afeta o preço”, avalia Francisco Grippa, principal economista do BBVA para o Peru. Segundo ele, a medida atinge principalmente países exportadores de minérios, como o Peru. “Enfraquece o superávit comercial e, dessa forma, também a moeda local, e pode eventualmente pressionar os prêmios de risco (taxa que mercado paga para que remunerar os investimenos; corresponde à taxa que excede a taxa de remuneração do mercado americano).”
Alguns especialistas assinalam que a demanda chinesa por cobre pode ser afetada pela desvalorização do yuan.
“Apenas no Chile, para cada centavo que diminui o preço do cobre, os cofres públicos deixam de receber US$ 60 milhões”, disse à BBC Mundo José Raúl Godoy, analista de mercado da XTB Latin America.
Fonte: BBC News Brasil