A Polícia Federal já iniciou a investigação sobre os ataques virtuais feitos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma equipe especializada na apuração de crimes cibernéticos, especialmente de casos de pedofilia e tentativas de fraudes bancárias na internet, vai atuar no caso.
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O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, apontou a ação de “milícias digitais” e disse na última segunda-feira, 16, ver “motivação política” nos ataques virtuais sofridos pela Justiça Eleitoral no domingo, 15, dia de votação do primeiro turno das eleições municipais. Nos bastidores, a condução da crise no TSE, que também sofreu com atrasos na divulgação dos votos, tem provocado críticas à atuação de Barroso.
Um ministro da Corte Eleitoral, que pediu para não ser identificado, considerou uma “lástima” o comportamento de Barroso. O presidente do TSE tem sido criticado reservadamente por integrantes, tanto do TSE quanto do Supremo Tribunal Federal (STF), por mudar a versão sobre a lentidão na atualização dos votos – e por responsabilizar a gestão de sua antecessora, Rosa Weber, pela decisão sobre a centralização na divulgação dos dados.
As eleições de 2020 foram as primeiras em que a divulgação da totalização dos votos foi centralizada no TSE. Antes, cada um dos 27 tribunais regionais eleitorais fazia as suas totalizações, de forma independente. A mudança nos procedimentos foi determinada na gestão de Rosa Weber no TSE, que acolheu um relatório técnico da Polícia Federal.
Fake news
A lentidão na totalização dos votos inflamou a militância digital bolsonarista, que voltou a lançar suspeitas – sem provas – sobre a lisura do processo eleitoral. Também ampliou o desgaste interno do secretário de tecnologia da informação do tribunal, Giuseppe Janino – Janino é um dos criadores da urna eletrônica no Brasil.
O TSE, no entanto, tem procurado afastar qualquer relação entre os ataques virtuais ao sistema da Corte Eleitoral e a lentidão na divulgação dos votos.
De acordo com a apuração da ONG SaferNet, às 9h25 do domingo foram divulgadas informações de servidores e ex-ministros do TSE obtidas em ataque ocorrido em 23 de outubro. Os dados, porém, eram referentes ao período entre 2001 e 2010, e não tinham qualquer relação com o processo eleitoral.
Mesmo assim, o fato foi usado nas redes para colocar em dúvida a segurança das urnas eletrônicas. “A divulgação foi feita no dia da eleição para trazer impacto e para fazer parecer fragilidade do sistema eleitoral”, declarou Barroso. Um dos que deram vazão a esta narrativa foi o deputado federal bolsonarista Filipe Barros (PSL-PR), investigado pelo Supremo no inquérito das fake news.
Em coletiva na última segunda-feira, Barroso apontou as ligações políticas dos grupos que embarcaram na campanha de desinformação a partir das primeiras notícias de ataques ao TSE.
Barroso também deu na ocasião uma nova versão para o atraso na totalização dos votos no primeiro turno, feita apenas às 23h55 do domingo. Segundo ele, a entrega de um “supercomputador” pela empresa Oracle foi atrasada por causa da pandemia do novo coronavírus. Comprado em março, o equipamento chegou em agosto.
Assim, afirmou o ministro, não houve tempo suficiente para testes prévios e a inteligência artificial do sistema não foi capaz de aprender a tempo a processar o volume de informações que recebeu.
Desempenho
Conforme revelou o portal do Estadão, a Polícia Federal recomendou ao TSE a centralização da divulgação dos votos em Brasília, na sede do próprio TSE, alegando que a medida melhoraria “consideravelmente a segurança operacional” e teria o “potencial de continuar com um desempenho satisfatório”. A informação consta em relatório da PF, assinado em outubro de 2018 e acatado pela equipe técnica do TSE. O documento foi enviado ao tribunal pelo então diretor-geral da PF, Rogério Galloro.
No relatório de 2018, a PF apontou que, naquela época, a transmissão dos arquivos de cada urna ocorria de forma descentralizada, com um servidor web em cada Tribunal Regional Eleitoral (TRE) responsável por receber os boletins de urna das seções eleitorais daquela região. Ou seja: cada Estado apurava e divulgava os seus votos.
“Observa-se que mudar a arquitetura de servidores para estarem fisicamente localizados no próprio TSE melhora consideravelmente a segurança operacional deste sistema e tem o potencial de continuar com um desempenho satisfatório, em virtude dos crescentes avanços nas tecnologias de comunicação em rede”, diz trecho do relatório da PF, assinado por três peritos da corporação.
De acordo com a PF, a descentralização na divulgação dos dados representava um “ponto de vulnerabilidade”, já que as informações referentes aos votos de cada região estariam distribuídas no TRE de cada Estado. É como se houvesse 27 bancos de dados, um em cada Estado, ao invés de um único banco de dados, concentrado no TSE.
“Com a migração dos servidores web e banco de dados locais dos TREs para o TSE esta exposição é minimizada”, sustenta o relatório.
A medida, alegou a PF em 2018, acabaria “reduzindo a quantidade de equipes de profissionais envolvidos (no processo) e aumentando a segurança do controle de acesso ao código e às funcionalidades do processo de totalização”.