A saída do atual ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, do comando da pasta, já é um fato considerado consumado em Brasília. As declarações e movimentações realizadas pelo presidente Jair Bolsonaro sobre a atuação do ministro desde o início da crise gerada pelo coronavírus, evidenciam que Mandetta ainda está no cargo por questão de tempo. O desentendimento entre o presidente e o ministro passou a ser a pauta política da grande imprensa.
Mandetta foi convidado por Bolsonaro para assumir a pasta da saúde por sua capacidade técnica e por pertencer a um dos poucos partidos que tem espaço no governo, o Democratas. E até então, o ministro vinha tendo uma atuação discreta. A partir da explosão da pandemia do coronavírus, Luiz Henrique Mandetta ascendeu para outro patamar e passou a ser o protagonista do governo Bolsonaro. O ex-deputado federal passou segurança à população em suas entrevistas e soube lidar muito bem com a imprensa, principalmente, com a parte que não é tida como simpatizante do governo.
Porém, a desenvoltura de Mandetta perante as câmeras fez ligar o alerta entre os bolsonaristas que não gostam de ver aliados brilhando mais que sua estrela principal, o presidente. Com isso, o ministro passou a ser isolado e o próprio Jair Bolsonaro não conseguiu esconder o desconforto de ver um ministro recebendo mais atenção do que ele e tendo posições divergentes da sua. A estratégia então passou a ser a fritura do gestor da pasta da saúde para que a sua permanência se torne insustentável. Mas, como nem tudo ocorre como planejado, a tentativa de jogar o nome de Luiz Henrique Mandetta na lama teve efeito reverso. Hoje, a população não quer ele saia e a cúpula do Congresso Nacional, apoiada pelos militares, vem pressionando Jair Bolsonaro para que desista de substituí-lo em meio a crise do coronavírus. O presidente já tem até o seu escolhido para assumir o Ministério da Saúde, mas pelo visto vai ter que esperar para fazer a troca. Por enquanto, Mandetta continua na frigideira e cuidando do paciente chamado Brasil, a quem ele disse que nunca o abandonará no transcurso do tratamento.
Caso o presidente não se contenha e decida fazer uso da caneta para mostrar quem manda na Esplanada, ele poderá estar diante de um novo líder político com capacidade de até mesmo ser seu concorrente em 2022. Um verdadeiro tiro no próprio pé. Enquanto isso, Mandetta segue trabalhando e conquistando cada vez mais espaço. Tem horas que é preferível agir com a razão do que com o coração. Política não se faz com o fígado.
Por José Fernando Vilela