• 27 de abril de 2024

CPI DA COVID | Líder religioso que atuou na negociação de vacinas reabre os trabalhos da comissão nesta terça (3)

Após duas semanas de recesso parlamentar, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid retoma os trabalhos com foco inicial em concluir as investigações sobre negociações suspeitas para compra de vacinas pelo Ministério da Saúde.

O primeiro a prestar depoimento, na terça-feira (03/08), é o reverendo Amilton Gomes de Paula, que atuou numa negociação para intermediar a suposta venda de vacinas da AstraZeneca em que há suspeita de tentativa de superfaturamento e cobrança de propina.

No entanto, ele obteve uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) que o autoriza a ficar em silêncio no caso de perguntas que possam incriminá-lo.

Gomes de Paula é fundador e presidente de uma organização não governamental (ONG) sem qualquer atuação prévia no ramo de vacinas, que foi criada em 1999 como Secretaria Nacional de Assuntos Religiosos (Senar) e renomeada em 2020 para Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah).

As acusações sobre a participação do reverendo em possíveis ilegalidades na negociação de imunizantes foram levantadas pelo policial militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, que ofereceu 400 milhões de doses da AstraZeneca ao Ministério da Saúde em nome da empresa americana Davati, muito embora ela não tivesse qualquer autorização do laboratório para ofertar e fornecer a vacina.

Ainda assim, Dominghetti foi recebido no Ministério da Saúde e acusa o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Dias de ter solicitado propina para o fechamento do contrato. Dias nega a acusação.

E qual o papel do reverendo nessa história? Segundo Dominghetti disse à CPI, foi Gomes de Paula quem o ajudou a conseguir marcar reuniões no Ministério da Saúde para apresentar a proposta de milhões de doses de vacina em fevereiro deste ano.

Há inclusive fotos do encontro que o próprio reverendo publicou em março nas redes sociais, conforme revelado em reportagem da Agência Pública. Em uma dessas imagens, Gomes está ao lado de Dominghetti, de Lauricio Monteiro Cruz (diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis) e de Hardaleson Araújo de Oliveira (major da Força Aérea Brasileira).

Além de ter participado da tentativa de venda da AstraZeneca para o governo federal, a ONG do reverendo também ofereceu doses para algumas prefeituras e Estados. Segundo carta da ONG enviada a governos estaduais e municipais obtida pela Agência Pública, foram ofertadas doses por US$ 11 a unidade, valor acima aos pagos pelo governo federal na compra da AstraZeneca de dois fornecedores autorizados — a Fiocruz (US$ 3,16) e o Instituto Sérum (US$ 5,25).

No documento, também foram oferecidas pelo mesmo valor (US$ 11) doses da Janssen, vacina que foi adquirida pelo Ministério da Saúde diretamente do laboratório americano por US$ 10.

O portal G1 teve acesso a e-mails enviados por Monteiro Cruz, do Ministério da Saúde, em fevereiro e março ao reverendo e a Herman Cardenas, presidente da Davati nos Estados Unidos, em que se confirma o envolvimento da ONG do reverendo nas negociações do governo federal.

A reportagem publicada em julho mostra ainda email de Gomes de Paula a Cardenas, em 10 de março, solicitando um novo documento de oferta (Full Corporate Offer – FCO) ao Ministério da Saúde, elevando ainda mais o valor a ser cobrado pela dose de Astrazenca.

“Eu cordialmente venho agradecer pela confiança depositada em nossa instituição em conduzir negociações com o Ministério da Saúde do Brasil. As negociações estão em estágio final e a expectativa é que o contrato seja assinado em 12 de março de 2021”, diz também a correspondência entre o reverendo e o presidente da Davati.

(Matéria adaptada da BBC News Brasil)

Foto: Reprodução/Google Imagens

Expressão Brasiliense

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